Escritos de Eva

Aqui Eva escreve o que sonha e - talvez - não só. Não tem interesses de qualquer tipo nem alinhamento com sociologias, política, religião ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Estes escritos podem servir de receita para momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Alguns poemas ou textos... Algumas imagens ou fotos... Mulheres e homens, crianças e idosos podem ler Eva e comentar dando a sua opinião.

2007-07-31

Férias

31 de julho de 2007

Edifício baixo e enorme, corredores largos, salas e divisórias amplas.
Algumas estão atulhadas de móveis, outras vazias ou quase.
São tempos de pequenas obras e limpezas para a próxima época. Deixa-se tudo limpo para ir de férias – mesmo que se não vá e apenas se fique de férias.
Pessoal empregado todo sorridente e a despachar os assuntos de última hora.
E no entanto, felizes os que têm trabalho e saúde para o executar.
- Sim, sim, mas as férias são um relaxar das rotinas. São a expectativa de dias simples e felizes.
- São, digamos, tempo de intervalo prolongado.
- Exactamente. E é tempo também para planos individuais e familiares em novos projectos. Mesmo se renovados, agora ou quando muda o ano no calendário, as pessoas sentem-se com dinâmicas mais arrojadas na sua vida.
- Por mim prefiro a sintonia de viver de modo mais esperançoso, crente que tudo pode ser sempre melhorado. Que sempre advém um ajuste de caminhos, ou de consequências que permitam ultrapassar as deficiências que se vão encontrando.
As férias podem ser um tempo utilíssimo, incluindo tempo para analisar melhor o que se pretende melhorar, para analisar os nossos pensamentos, palavras e acções – assim como se podem sempre melhorar e até, alegrar. A alegria é saúde, também.
E dias melhores virão, porque tudo está sempre em mudança, continuamente.
E já agora: Boas Férias!

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. La Maison de Vacances

© Tania Cadio

.em http://www.tania-cadio.com/

2007-07-30

Causa e consequência

30 de julho de 2007

Prédios muito altos, ainda mal iluminados pelo sol que vai nascer.
Toda uma cidade ainda às escuras, com algum movimento típico das madrugadas e o sossego igualmente típico das madrugadas.
O avião vai baixando de altitude e passa rasando os telhados para aterrar com facilidade, apesar do aeroporto ser pequeno.
O pessoal em idade activa de trabalho começa as suas rotinas, em casa abrindo e fechando as janelas, nas ruas a caminho dos empregos.
Também muitos outros chegam agora a casa, cansados dos turnos da noite e desejosos de um ambiente bom para dormir.
Sobretudo nos hospitais o ritmo é acelerado, todas as noites. E todos já contam com isso.
Neste vaivém, no corre-corre casa-emprego-escola dos filhos-casa, esquematizam-se as vidas, repetidamente, durante anos e décadas.
Todos estes afazeres deixam as suas marcas na tela do espaço e do tempo das nossas vidas.
A maior parte de nós não compreende a importância que tem para o nosso futuro a correcção dos nossos pensamentos, palavras e atitudes.
São autênticas gravações em pedra, registos da nossa vida, das opções que tomámos por nós e pelos outros.
Somos causa e consequência de nós mesmos, assim como o sol que vai nascendo e que vai iluminar, cada vez melhor, o que estava na escuridão.
Bendita a luz que nos ilumina!

2007-07-29

Dois poemas; duas preces

Prece Irlandesa
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Que a estrada se abra à tua frente,
Que o vento sopre levemente nas tuas costas,
Que o sol brilhe morno e suave na tua face,
Que a chuva caia de mansinho nos teus campos.
E até que nos encontremos de novo,
que Deus te guarde na palma das Suas mãos...
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May the road rise to meet you,
May the wind be always at your back,
May the sun shine warm upon your face,
The rains fall soft upon your fields;
And until we meet again,
may God hold you in the hollow of His hand.
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Até ao Fim
( Dom Helder Câmara )
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Não; não pares.
É graça divina começar bem.
Graça maior persistir na caminhada certa.
Manter o ritmo...
Mas a graça das graças é não desistir,
podendo ou não podendo chegar até ao fim...
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2007-07-28

Talvez um dia...

28 de julho de 2007

Parecem cortinas finíssimas de cores claras e sobrepostas.
E é por elas que se passa de uma divisão para o exterior, ainda em pedra, para chegar depois a uma espécie de largo ajardinado.
Tudo muito bonito, como nas revistas de decoração.
As ditas cortinas esvoaçam à porta de entrada.
Estão algumas pessoas por ali, em sossego e de ar calmo.
Outras passam como que atalhando caminho pelos seus afazeres.
Outros mais, chegam e vão sendo apresentados.
Pois é, parece que vai haver uma reunião.
Bem, não exactamente, é mais uma palestra, ou aula ou curso. Algo semelhante.
Sem sinal aparente, as pessoas começam a sentar-se viradas para uma zona de topo, que logo a seguir é ocupada por alguns outros – não consigo perceber bem, se três ou cinco.
E o orador principal começa a falar. O silêncio é total. No fim, é dada a possibilidade de esclarecimentos individuais.
Muitos aproveitam para comentar, outros para ouvir e aprender.
No final, todos saem com uma espécie de “rolo” de apontamentos e vão formando logo ali grupos – talvez de acordo com as suas tarefas.
De tudo, o que mais me assombrou foi a ordem e disciplina por um lado e, por outro, o ar calmo e interessado no aprender e nas tarefas destinadas.
- Parece que, de repente, estávamos noutro planeta, não era?
- Talvez um dia se viva assim, com disciplina e interesse pelo que se faz.

2007-07-27

Sorrisos

27 de julho de 2007

Um arbusto, que se fosse bem podado poderia ser árvore em futuro próximo, mostra belíssimas flores carmim em cachos e quase um em cada ramo.
Ou seja, mostra uma profusão de flores e folhas.
É enorme e está a um canto do edifício. Reparámos nele porque não é usual essa cor carmim nas flores desse tipo de arbusto/árvore.
O arbusto e as flores serviram de conversa nesse passeio pelo jardim.
Acho que se falou de tudo o que se relacionava com o passeio, a família e o jardim.
As pausas eram sobre as plantas, as flores e até sobre a brisa que soprava no caramanchão.
Este é um local agradável e bastante fresco, com bancos e trepadeiras a fazer de parede.
As trepadeiras também são floridas mas sem o carmim.
Formou-se um pequeno grupo de pessoas e a conversa animou-se com todos a querer falar ao mesmo tempo.
Só um homem, já idoso, não falava. No entanto, após dias de muita tristeza, já se notava um ténue sorriso ao ouvir tanta conversa, alguma um tanto disparatada, tanta alegria de quem vive despreocupadamente.
Foi um sinal muito bom de que o instinto e a força vital ainda estavam activos.
Nós, que lhe queríamos bem, ficámos também agradados com os minutos do seu agrado.
É bom, é esperançoso sentir a solidariedade entre as pessoas.
Ajuda quem está no meio da tristeza a conseguir soerguer-se, mesmo que lentamente.

2007-07-26

Ar de férias

26 de julho de 2007

Túnicas, saídas de praia, vestidos simples e um ar de férias em todos os rostos.
Férias que são momentos para recordar em felicidade.
Fotos, filmes e conversas contribuem para este clima de alegria e descontracção.
Por vezes a doença não deixa descansar no tempo de férias; outras vezes é o horário ocupadíssimo por todos os projectos que ficaram um ano adiados para esse “tempo livre”.
Mas no geral – férias são férias!
Ondas vibrantes de alegria preenchem os nossos pensamentos e todo o nosso corpo reflecte esse bem e alegre pensar.
Era bom aplicarmos essa receita para o resto do ano, mas é evidente que não é fácil.
Só a retoma de horários e preocupações aliadas às tarefas familiares e profissionais já alteram os melhores planos.
No entanto, ano após ano destes bons projectos, algo vai transformando essas rotinas avassaladoras da nossa liberdade.
A idade vai ajudando não só aos cabelos brancos mas a um ritmo mais calmo, a uma paciência mais defendida em prol do nosso bem-estar.
O simples desejo de prolongar o “ar de férias” na nossa vida já é um bom investimento na felicidade.

2007-07-25

Há flores no ar

25 de julho de 2007

Nos degraus de uma escadaria larga, e a céu aberto, há flores no ar.
São flores grandes e pequenas, de todas as cores e muito variadas na forma.
Parámos no meio da escada para apreciar melhor este autêntico festival de flores.
A beleza e o perfume faziam a escadaria parecer um paraíso e todos tínhamos vontade de ficar ali. Simplesmente estacionados de corpo, parados como estátuas.
As flores, por qualquer efeito de luz, transformaram-se em pontos luminosos, igualmente belos.
Alguém do mundo da moda disse, há já uns anos, que a beleza fazia o espírito voar mais alto, a caminho da sublimação.
Há algo de verdade nesta afirmação porque, efectivamente, a beleza é inebriante para os sentidos e os pensamentos tendem a sublimar-se nas alturas celestes.
Naquele momento, todos experimentámos uma alegria e harmonia no nosso ser que não queríamos que terminasse.
Daí a imobilidade porque nada deveria perturbar esses momentos.
Às vezes pergunto-me como pode a vida ser tão bela, pelo menos... mentalmente.
Talvez seja para manter a fé e a esperança de um dia se conseguir a proeza de prolongar esses momentos eternamente.

2007-07-24

A lógica do nosso pequeno mundo

24 de julho de 2007

Olhando o horizonte. Entre o azul das águas e o do céu ou entre a linha de uma terra branca como uma nuvem e o céu - são tudo horizontes ou linhas que definem, mais do que dividem, regiões diferentes.
Num desses horizontes vai aparecendo uma luz como se fosse o de uma aurora. Começa por ser um ponto, parecendo uma esfera de luz branca e resplandecente, que vai crescendo com a forma de um semicírculo.
E depois, mais depressa, alastra e tudo fica dentro dessa luz.
Tudo e todos ficamos impregnados dessa luz.
E tudo se modifica em nós, como um transporte a outro mundo ou como uma transformação total.
Nada tem importância a não ser estar e perceber essa luz em nós.
Ser possível ficar com os gestos impregnados da luz ora branca, azul, amarelada, rosada…
Tudo à nossa volta fica sem forma definida, transformando em transparência aquilo que era opaco e consistente.
Nada existe como era.

Todos são agora transparentes com uma leve impressão de contorno.
Alguém perguntou como era possível.
A luz esmoreceu com a dúvida...
Que pena ser ainda tão difícil aceitar o impossível quando é maravilhoso.
Outro dia será melhor, o dia em que a esperança e a fidelidade à superioridade do divino prevaleça sobre a razão e a lógica do nosso pequeno mundo.

2007-07-23

Pequenos agrados

23 de julho de 2007

Umas canções suaves e melodiosas tocam na aparelhagem – já não se diz “na rádio”.
E são canções modernas! - porque hoje há de tudo na música.
Os conjuntos tanto tocam o impossível como os acordes mais melodiosos e sublimes que se possam ouvir.
Os estilos do passado estão mais ou menos “ao molho” e são tratados por uma coisa chamada sintetizador.
Este faz-me sempre lembrar a comparação feita por um conhecido tenor sobre a capacidade da tecnologia moderna transformar o ladrar dum cão numa voz humana afinada.
Inclino-me a concordar que, hoje em dia, quase tudo é possível.
Mas, voltando à música suave referida no princípio, é daquelas que têm a capacidade de nos remeter a sonhos ou recordações do passado.
Sobretudo as boas recordações. E hoje, num dia ventoso, de chuva e algo agreste, é um bom dia para sonhar no aconchego do sofá.
Pequenos agrados de alguns, como o acrescentar uma leitura despreocupada e o mais agradável possível.
Já agora, mais um pequeno vício – uma caixinha de bombons (e cuidado com o chocolate aquecido ao sol).
E pronto, aí estão dias, como este, complementados com momentos de agrado tão simples – sós ou em companhia, e em qualquer lugar.

2007-07-22

James Redfield # A Profecia Celestina

22 de Julho de 2007

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Descrevia uma nova compreensão daquilo a que, durante muito tempo, se chamara «consciência mística». Nas últimas décadas do século XX, dizia, essa consciência seria divulgada como um modo de ser ao alcance de qualquer um, um caminho perfeitamente utilizável, como fora demonstrado pelos mais esotéricos praticantes de muitas religiões. Para a maioria, esse estado de consciência continuaria a ser um conceito intelectual, um mero tema de conversa e de discussão. Mas, para um número crescente de pessoas, iria tornar-se experimentalmente real: no decorrer das suas vidas, experimentariam esse estado de consciência. Mas o Manuscrito dizia ainda que esse estado de consciência era a solução para pôr termo aos conflitos humanos no mundo. E porquê? Porque, durante tais experiências místicas, iríamos receber energia de uma outra fonte, fonte de que aprenderíamos a servir-nos sempre que quiséssemos.
Parei de ler e olhei, de novo, para o jovem padre. Tinha aberto os olhos e parecia estar a fitar-me. Acenei com a cabeça, embora, àquela distância, houvesse pormenores do seu rosto que me escapavam. Para surpresa minha, acenou-me também e sorriu ao de leve. Depois, levantou-se e dirigiu-se à casa. Evitou sempre o meu olhar enquanto eu o observava a atravessar o pátio e a entrar no edifício.
Ouvi atrás de mim ruído de passos, voltei-me e vi Sanchez a sair da igreja. Sorriu ao chegar ao pé de mim.
– Foi rápido – disse ele. – Gostaria de conhecer melhor o lugar?
– Claro que gostaria – respondi. – Fale-me daqueles recantos ali, onde se sentam. – E apontei para a zona onde estivera o jovem padre.
– Vamos até lá – disse ele.
Enquanto íamos andando pelo pátio, Sanchez contou-me que a missão existia há quatrocentos anos e que fora fundada por um missionário vindo de Espanha, que achava que a maneira de converter os índios autóctones era pelo coração e não pela força das espadas. O método resultara, prosseguiu Sanchez, e esse êxito ficara a dever-se, em parte, ao facto de a missão estar isolada, o que permitira que o padre realizasse o trabalho à sua maneira.
– Continuamos a sua tradição. Continuamos a tentar olhar para dentro de nós, em busca da verdade – disse Sanchez.

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in "A Profecia Celestina"
de James Redfield
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2007-07-21

Convicções de vida(s)

21 de julho de 2007

A música ouve-se alto e as palavras parecem proferidas como num sonho. Uma espécie de sonho acordado.
Vendo bem, é como ele tem passado a sua vida, num sonho acordado.
Calmamente, tudo decorreu na normalidade e na rotina dos dias: escola, emprego, e organização de família própria.
Foi como se deslizasse pela vida de um modo pacífico e andando sempre.
Assim como os dias que se sucedem às noites, simplesmente “sucedendo sucessivamente”, anos a fio.
As suas convicções também são pacíficas, tanto como os seus ideais.
Os dinheiros têm que ser poupados para chegar, mas vão chegando ao fim do mês sem grandes sustos.
Tem uma coisa de diferente dos outros: não se importa nem com a doença nem com a morte.
Para ele tudo é um modo de viver a vida, e a morte é só a passagem de uma cancela para seguir a via da eternidade; trabalhando doutro modo, com outro aspecto, porque aí a imagem será espiritual e, portanto, o reflexo da sua personalidade.
Segundo a sua opinião, nessa altura, irá ocupar o nível correspondente à sua personalidade conforme tiver evoluído nos seus sentimentos, para enfrentar as situações desta vida que lhe conhecemos.
Ou seja, ele considera-se um somatório de muitas vidas e, nesta vida presente e o que por ela se tornar, terá como resultado uma personalidade espiritual melhorada.
O progresso é entendido como um caminhar para o nível de anjos divinos.
Concordando ou não com estas suas convicções, a vida – vista e vivida por este prisma – parece mais fácil de enfrentar.

2007-07-20

Amor é...

20 de julho de 2007

Há uma canção agora em voga que, no refrão, diz ”que fizeste, derrubaste tudo o que tínhamos porque esqueceste que o mais importante era o amor”.
Cheia de arranjos e vestida com uma bela orquestração, os versos são simples e mantêm a grande frase de que seja pelo que for, o mais importante é manter o amor.
E entenda-se, por amor, um sentimento abrangente, universal, fraterno.
Por esse amor há lugar para a paz, o respeito mútuo, uma vida de bem-estar e harmonia com a verdade de cada um.
Não seria ainda um mundo perfeito mas seria melhor.
Sou das que continua a ter esperança nas pessoas e nas suas opções.
Continuo a reparar que ao lado da miséria mental de alguns (ou muitos), há sempre alguém (ou um grupo) que faz o melhor que pode por si e por aqueles que ainda estão nesse estado de guerra interna.
Porque também não há grandes dúvidas: quem gosta de violência, vive uma maior violência consigo mesmo.
Se há paz interior, há paz exterior também.
Se há amor puro no coração, há fraternidade em todos os pensamentos e gestos.
Amor é paz e harmonia em cada ser.

2007-07-19

Hábitos

19 de julho de 2007

Tempo chuvoso e húmido e logo sobe no ar o cheiro da lenha a queimar. Depois vem o cheiro dos chouriços e de pão quente. Ou de um caldo de legumes. Ah, também o café!
Por qualquer razão, o tempo chuvoso apela à comida assim como o tempo quente chama as bebidas – refrescos, fruta, leite, iogurte ou… do que se quiser.
São apelos instintivos relacionados com as tradições da infância de cada um.
Todos temos, mais ou menos vivas, estas lembranças.
Hoje, no meio de um jogo de damas, dois homens conversavam que não sabiam o porquê - ou que não se lembravam – da razão porque haviam deixado de jogar damas, logo a seguir à tropa. Um deles até entrara em campeonatos e, de repente, deixou de jogar.
Veio o casamento, os filhos, a família, e pronto… nada de tempo, nem de parceiros… e o jogo de damas ficou arrumado. Uma pena porque, à semelhança do xadrez, é um jogo que anima a mente.
Agora, em idade mais avançada, volta a poder jogar porque tempo é o que tem de sobejo.
A verdade é que os bons hábitos são para cuidar e, se possível, fazer como ele agora fez ao ajudar a florescer bons hábitos noutras pessoas, alegrando as tardes chuvosas no jogo útil e na cavaqueira amena.
Conseguiram ultrapassar as mágoas e os tempos idos com a família, com outras recordações boas.

- Olha aí pela cortina… não é o sol a brilhar outra vez?

2007-07-18

O individualismo e a natureza

18 de julho de 2007

Estradas de Verão! Cheias e inundadas da luz forte do sol.
Até o chão brilha com a força da luz e do calor.

As casas parecem ainda mais brancas e reluzentes.
É um país onde ainda se respira paz.
A paz vem de dentro, do coração, e as pessoas daqui ainda são simpáticas e de boa convivência. Como dizia uma antiga canção, "são todos primos e primas".
Actualmente o individualismo torna-se cada vez mais marcante, entre a comodidade e a segurança pretendida, mas nem sempre alcançada.
Os filmes e as notícias do resto do mundo alertam para que as guerras são cada vez mais arrasadoras e o bem-estar uma fantasia.
E a vida passa a viver-se em forma de ilusão, em computador.
Tudo o que é exagerado não é saudável.
Sempre que possível, devemos voltar-nos para a natureza e para a simplicidade de vida.
Deve ser por isso que se chama “planeta vivo” a todos os programas que retratam o respeito pela natureza e a sua boa influência na saúde física e mental das pessoas.
Assim como é importante o respeito pela natureza, também urge respeitar os seres vivos, sobretudo os mais indefesos.
Pode ser que o Homem aprenda a respeitar-se também.

2007-07-17

Gerações

17 de julho de 2007

Matrículas, escolas, professores e alunos, médias escolares e exames – tudo se resolve nestas semanas.
Empregados mais ou menos simpáticos forçam, sem qualquer intenção, as opções entre uma escola e outra.
Porque as simpatias são primeiramente instintivas e só depois podem, com algum esforço, ser racionais.
São tempos de azáfama em Secretarias e Conselhos Directivos, um verdadeiro corre-corre entre dias e semanas. E, claro está, os mais emocionados são… os pais!
Esses são os que esperam pacientemente, os que dialogam até sobre o que não entendem para que os filhos vão melhorando o seu futuro e sejam melhores do que eles.
É assim de geração em geração. Faz parte das funções e das rotinas familiares.
É engraçado este rodar de funções e situações nas famílias, repetindo cíclicamente, de geração em geração, as mesmas preocupações.
Faz parte dos atributos de pais e dos filhos, que serão pais um dia.
Geralmente só se compreende bem uma situação quando se vive outra situação semelhante.
Resta desejar que seja possível sermos dignos da passagem do testemunho e de manter a tocha acesa até ser a nossa vez de os passarmos ao seguinte.
Famílias felizes... serão, talvez, essas que mantêm os laços tradicionais.

2007-07-16

Renovação

16 de julho de 2007

Obras em casa. Só é bom se pensarmos na parte final e no que já foi conseguido.
Os começos são um desastre porque, em regra, nem sequer se cumprem os horários nem os calendários.
O tempo todo é um apertar de dinheiros, de tempos e de nervos. E no fim, talvez tenha valido a pena, ou não.
Mas pronto! Cada um faz o melhor que pode e sabe que a mais não é obrigado...
Em princípio, todos somos o melhor que podemos ser.
E às vezes, dá para pensar que podemos pouquíssimo.
Deve ser nessas alturas que tentamos progredir mais depressa ou que nos esforçamos mais para sermos melhores em tudo: na família, na profissão, na gestão dos dinheiros, etc. etc.
O Verão e as férias são isso mesmo: projectos, horários livres, novos conhecimentos, casas renovadas - nem que seja só de pinturas.
É quase uma renovação anual, um virar de contextos e de atitudes também.
- Mais um ano! Traz mais juízo e um ou outro cabelo branco, não é?
- Por falar nisso, temos de comprar uma balança!
- Hã!?!

- Esquece! A minha cabeça também está a precisar de renovação!

2007-07-15

Teilhard de Chardin # O Meio Divino

15 de julho de 2007

Onde estão as raízes do nosso ser? Pois mergulham primeiramente no mais insondável passado. Que mistério o das primeiras células que um dia foram animadas pelo espírito vital da nossa alma! Que indecifrável síntese de influências sucessivas em que estamos para sempre incorporados! É em parte a história toda do Mundo que se representa em cada um de nós através da Matéria. Por mais autónoma que seja a nossa alma, ela é a herança de uma existência prodigiosamente trabalhada, antes dela, pelo conjunto de todas as energias terrestres: ela encontra-se com a Vida e junta-se a ela num nível determinado. – Ora, apenas se encontra introduzida no Universo nesse ponto particular, ela sente-se, por sua vez, assediada e penetrada pela onda das influências cósmicas que há-de ordenar e assimilar. … … …
Se o alimento mais humilde ou mais material é já capaz de influir profundamente nas nossas faculdades mais espirituais, que dizer das energias infinitamente mais penetrantes trazidas pela música dos matizes, das notas, das palavras, das ideias? Não há em nós um corpo que se alimente com independência da alma. Tudo o que o corpo admitiu e começou a transformar, a alma tem por sua vez de o sublimar. Ela faz isso à sua maneira e segundo a sua dignidade, sem dúvida. Mas não pode fugir a este contacto universal nem a este labor de todos os instantes. E assim se vai aperfeiçoando nela, para sua felicidade e correndo riscos, a capacidade particular de compreender e de amar, que constituirá a sua mais imaterial individualidade. … … … não esqueçamos que a alma humana por mais criada à parte que a nossa filosofia a imagina, é inseparável, no seu nascimento e na sua maturação, do Universo onde nasceu. Em cada alma Deus ama e salva parcialmente o Mundo inteiro, resumido nesta alma dum modo particular e incomunicável. … … ...
E assim, cada um, no decurso da sua vida presente, … deve construir, começando pela zona mais natural de si mesmo, uma obra, um «opus», onde entre alguma coisa de todos os elementos da Terra. Em todo o decorrer dos seus dias terrestres ele faz a sua alma. E ao mesmo tempo, colabora numa outra obra, num outro «opus», que ultrapassa, infinitamente, orientando-as no entanto de perto, as perspectivas do seu êxito individual: o acabamento do Mundo. … … ...
O Mundo, pelos nossos esforços de espiritualização individual, acumula lentamente, a partir de toda a matéria, o que fará dele a Jerusalém celeste ou a Terra nova.
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in "O Meio Divino"
de P. Teilhard de Chardin
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outros textos da mesma obra, nestas ligações:
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2007-07-14

Recordações

14 de julho de 2007

Dorme e chora. Por instinto, ou reacção do corpo, faz a rotina do dia e deita-se para dormir, à noite.
Todos os hábitos, arreigados em muitos anos de vida, são agora extremamente úteis para assegurar a sobrevivência enquanto a cabeça não recupera da tristeza profunda.
Ele procura a solidão e até o escuro em vez da luz, o espaço fechado de um quarto em vez do jardim a céu aberto de que tanto gostava.
Hoje consegui levá-lo para esse jardim e que ficasse sentado num dos bancos que lá estão.
Mas continua apático, com a solidão instalada, lá dentro, funda, a transformar-se em pedra.
O andar ficou trôpego de uma hora para a outra e tudo o faz tropeçar.
Contudo, apesar dos olhos estarem sempre enevoados e os obstáculos serem simples sombras, desvia-se deles cautelosamente – sejam portas, pilares, mesas ou pessoas.
Penso que temos também direito a estar tristes e ter um tempo nosso para amar a nossa tristeza.
Mas não devemos deixar a tristeza tomar conta da nossa vida. Só de algum tempo da nossa vida.
Devemos manter acesa a esperança de voltar a querer o sol e as flores, e tudo mais nítido à nossa volta.
Além de que os dias continuam a suceder-se, à espera da nossa alegria, para lhes fazer companhia… assim que puder ser.
E que seja bom outra vez.
As recordações deverão reunir-se como um braçado de flores e reaparecer a cada estímulo.
Simplesmente assim… como boas recordações a embelezarem os dias.

2007-07-13

Morte de mãe

13 de julho de 2007

Está um dia lindo: céu limpo, sol a brilhar, árvores cheias de folhagem, arbustos bem floridos. Enfim, perfumes da natureza no ar.
Contudo parece que algo se desprendeu ou se perdeu de mim.
Perdeu - parece mais adequado, assim como Alguém em vez de algo.
Não sei explicar, mas… as cores estão lá, na paisagem, mas estão diferentes.
Tudo brilha mas de modo difuso ou velado.
Um velado suave e bonito.
Tudo está belo – sei que está – belo e colorido…
Mas o que eu vejo é a paisagem matizada em tudo.
Até as pessoas estão como que no “quadro” da paisagem.
- Deve ser um problema visual ou de cansaço. Vai ter que ir ao médico.
- Não, não… todos me dizem que há-de passar! E os dias vão passando… mas a dor não... A minha mãe morreu!
- Ah, então vai mesmo precisar de ir ao médico para ele lhe prescrever um calmante fraquinho ou qualquer coisa que a melhore.
- Não! Estas dores assim têm que ser tratadas com muito carinho até serem boas recordações. Recordação de algo que valeu a pena viver.
Isso eu sei!... Só não sei quanto tempo vai demorar.

2007-07-12

Tratamentos

12 de julho de 2007

Hoje em dia já faz parte da indicação dos remédios, um modo mais claro de explicar como se tomam.

Ou sobre os tratamentos, como se fazem.
Também já faz parte destas situações explicar ao doente o que lhe foi receitado, porquê e como deve fazer.
E se há casos em que é só tomar uns comprimidos, outros remédios há mais complicados em que o doente deve ficar em descanso, não pode apanhar sol directamente, deve beber mais líquidos, etc, etc.
Também é verdade que mesmo quando o médico explica e o farmacêutico explica novamente, o doente está tão enervado que não ouve metade e a metade que ouve não percebe e nem sequer «encaixa» a informação em memória para recordar depois, mais calmo.
No meio de tudo isto, sobra o enfermo que, se não melhora logo, parte geralmente do princípio que foi o médico que se enganou.
- É por isso também que gosto de vir a esta farmácia aviar os receituários. Sejam cremes, sejam antibióticos ou analgésicos, os senhores explicam tudo com muita paciência e sem pressas.
- Mas é para isso que aqui estamos. Muito obrigado pelas suas palavras.
- Pode ser mas é com certeza mais gratificante vir aqui. Dão-me a sensação de segurança.
- Procuramos dar toda a atenção aos utentes para o receituário e os problemas que trazem.
- Pois… bem hajam!

2007-07-11

Os dias

11 de julho de 2007

Um jardim com árvores bem altas e tudo bem cuidado.
Trânsito de carros e pessoas passam junto deste jardim que mais parece um oásis, para o qual nem olham ou sequer reparam.
Parece a história do peixinho vermelho que, de todos os habitantes do lago, foi o único a querer ir além das bordas do lago.
E quando voltou para avisar os companheiros que, para além do lago, havia rios e um mar enorme onde nunca faltava comida, foi desdenhado pelos outros e os sacrifícios que fez para os vir avisar não serviram para nada mais que deixá-lo triste e pesaroso.
Todos aprendem apenas o que querem aprender.
Todos conhecem apenas o que querem conhecer.
Todos podem encontrar alternativas, até em si mesmos.
Os dias correm, para as pessoas que se habituaram a correr por eles.
Os dias são motivo de progresso para os que abrandam regularmente o ritmo, para pensar.
- Grande coisa! A diferença entre nós e os animais é precisamente o sermos inteligentes.
- Pois eu acho que há animais que apesar de se regerem essencialmente pelo instinto, parecem mais evoluídos que muitas pessoas.
- Oh, excepções há sempre! Mas as maiores possibilidades de evolução já estão no Homem.
- Desejemos então que, cada vez mais e melhor, as possa usar com sabedoria para si próprio e para os outros.

2007-07-10

Velhice

10 de julho de 2007

Transportes de passageiros. Nas cidades estão cada vez mais úteis mas nos locais mais isolados, é de carro ou de moto (de moto, classe à parte no mundo das “motas”) que as pessoas se servem no dia-a-dia.
Porque os horários são de poucas carreiras ou comboios e, nos sítios mais pequenos, as pessoas deslocam-se a pé, de moto ou em carros de particulares.
Uma deslocação, de casa para outro sítio, é uma das razões principais para as pessoas se isolarem cada vez mais se não têm facilidade de transporte.
Com o avanço dos anos as pessoas ainda podem ficar mais isoladas com os problemas de saúde habituais.
Hoje em dia é uma constante pessoas idosas e sózinhas em casa, sem quaisquer cuidados, sobretudo quando a vizinhança também se vai embora ou se isola por motivos semelhantes.
Os setenta e muitos, os oitenta e os noventa e tais são geralmente sinónimo de vida pobre, muito pobre.
Pobre de meios de subsistência, de cuidados de saúde, de condições de vida social, etc.
Daí às demências e alucinações é um passo muito curto.
Depois de trabalhar uma vida sem cessar e criar a família, só resta esperar o dia final desta vida.
Antigamente os povos tribais e nómadas deixavam os seus velhos para trás na altura das deslocações sazonais.
Hoje, neste terceiro milénio, nem se consegue definir onde ficam, mas tudo indica que não ficam nada bem.

2007-07-09

Não te lembra nada?

9 de julho de 2007

Em tempo de reunião ele está, como a maioria dos outros, sentado.
A conversa segue animada mas ele vai ficando calado e cada vez mais quieto e começa a isolar-se desse zum-zum das conversas.
Consegue até isolar-se daquele sítio e semicerrando os olhos, vê coisas fantásticas que não estão em lado nenhum.
Parece um sonho acordado como se o olhar se focasse num cone formado de espirais de luz.
Essas espirais vão senda cada vez em maior número, prolongando o vértice do cone para mais e mais longe.
No fim só está uma luz como uma estrela.
Ele então aproxima-se dessa estrela e entra lá… assim… como se entrasse para uma casa.
Fica espantado porque vê anéis e esferas muito brilhantes e de cores variadas mas muito claras, quase nuances de branco.
Dá um salto e fica em cima duma dessas esferas.
Olha em volta e…
- E então, avó?
- Não te lembra nada?
- Não, conta mais!
- Ai, ai… então... agora ele é como o Principezinho... aquele que está sozinho no planeta!

2007-07-08

Jorge Luís Borges # James Joyce

.
Num dia do homem estão os dias
do tempo, desde aquele inconcebível
dia inicial do tempo, em que um terrível
Deus prefixou os dias e agonias,
até esse outro em que o ubíquo rio
do tempo terreal retorne à fonte
do Eterno, e que se apague no presente
o ontem, o futuro, o que ora é meu.
Entre a alba e a noite se situa a história
universal. Assim, de noite vejo
a meus pés os caminhos do hebreu,
Cartago aniquilada, Inferno e Glória.
Dá-me, Senhor, coragem e alegria
para escalar o pico deste dia.

..
in "Nova Antologia Pessoal"
de Jorge Luís Borges
.
.

2007-07-07

Momentos

7 de julho de 2007

Céu cinza, chove aqui mas junto à praia, a poucos quilómetros, já faz sol.
O tempo está abafado e cálido, típico de trovoada.
A chuva cai de forma leve mas contínua.
Os mais jovens olham o céu e resolvem levar blusões com capuz e raquetas para a praia. Porque nem se duvida, hoje é dia de praia – mesmo sem saberem que lá brilha mesmo o sol.
É uma pena mas a idade vai deixando cair aos poucos este fôlego de alegria, coragem e esperança.
Princípios tão lindos e que geralmente são isso mesmo – princípios de vida e de personalidade.
Depois vem a fase adulta, de afirmar uma vida própria e então começa a decair essa alegria de viver.
A questão que primeiro ocorre perguntar é se vivíamos na ilusão e depois criamos juízo ao querer criar raízes, ou ao contrário, se em jovens vivíamos a realidade das coisas, levados por muita alegria e vivacidade e mais tarde, ao querer ser adulto, se chega à ilusão de uma vida que não existe.
Afinal as responsabilidades estão assim tão longe da alegria de viver?
Manusear dinheiro, contas e pagamentos é um drama ou uma componente do trabalho?
O trabalho é assim tão desiludido e cortante com a vida, que só permite a fantasia da preocupação constante e o isolamento?
Quero acreditar que os dias e as noites dão tempo para rodar os sentimentos, não a idade.
É desejável aumentar os momentos e situações felizes e regular, com disciplina apertada, os instantes de preocupação e isolamento.

2007-07-06

Nim

6 de julho de 2007

Uma sala grande, com cadeiras em semicírculo, ou em anfiteatro, como se vulgarizou dizer hoje em dia.
Meia dúzia de pessoas, com semblante grave, estão à espera de outros que vão passando.
Alguns ficam sentados, outros seguem o seu caminho.

Mas todos conversam um bocadinho com os tais que estão sentados, desde o início da tarde – pelo menos é o que parece.
A conversa é sobre a cisão que se sente naquela organização.
É uma cisão de opiniões e que se referem a linhas futuras de actuação.
As opiniões são agora muito nítidas e a tal ponto divergentes que não é mais possível o entendimento dos corpos sociais.
Não implica prejuízo especial para ninguém, apenas chegou a altura de reunir os mais tradicionalistas ou conservadores e os mais ousados, em actualidade e progresso.
Também é uma dificuldade a opção para quem ali está só pelos laços de amizade de longos anos e que vê os amigos em lados opostos da divisão que se foi estabelecendo.
Encontram-se ali também os que gostam do convívio, o que ainda torna a escolha mais difícil, quase situação de moeda ao ar, tipo “cara ou coroa”.
Tudo isto porque a organização cresceu e desenvolveu-se exigindo novos níveis de opções com consequências diferentes, mais do que propriamente muito variadas.
Mas não há nada a fazer. Temos sempre que caminhar na nossa vida como numa linha recta e em frente. Sempre em frente!
E continua a ser verdade que não se pode agradar a gregos e troianos ao mesmo tempo.
O “nim” não existe, realmente!

2007-07-05

O lago e a tartaruga

5 de julho de 2007

Chamam-lhe um lago mas não é mais que um reservatório com vários declives e apenas alguns palmos de profundidade.
Além dos mosquitos, abelhas e vespas que lá vão parar, a “dona” desse lago é uma tartaruga bastante grande e com bastantes manias.
Os animais também têm hábitos e manias, só temos que os observar bem.
Os passaritos só lá vão beber água na borda oposta à zona onde ela está.
Os gatos sentam-se a razoável distância a observar-lhe os movimentos.
Os cães não respeitam nada e querem saber o que é aquilo de modo que saltam para o dito lago e tentam apanhá-la.
Ela transforma-se imediatamente numa carapaça e eles ficam confusos com essa espécie de pedra entre as patas.

Entre a brusquidão e a alegria da brincadeira, por vezes conseguem atirar com a carapaça ao ar e logo se vê onde vai parar.
E acabam por ir embora quando desaparece o interesse.
Ela espera que não haja barulho nenhum e aparece, lenta e cautelosamente, pelas extremidades da carapaça.
Percebendo o sossego, apressa-se a voltar para a sua querida água.
Tenho que dizer que a sua paciência é tão admirável como os seus reflexos.
E dou por mim a desejar conseguir esse sentido de oportunidade e a dose de paciência demonstrada por uma tartaruga.
Afinal, todos podemos aprender uns com os outros.
Todos podemos dar e receber em qualquer momento, a todo o instante podemos referenciar-nos connosco, com os outros e com o meio que nos rodeia.
Existe uma riqueza assim... a simplicidade ao alcance do pensamento…

2007-07-04

Vicissitudes

4 de julho de 2007

Dia de praia, sem praia real. Resta a vontade de lá ir, quando puder ser.
Entre o que se deseja e o que se consegue realizar há, geralmente, esta dicotomia. No entanto, é a partir das diferenças que se encontra o progresso. É do esforço, para conseguir o que se pretende ou escolhe, que advém o mérito.
É assim também a evolução.
Atravessando as vicissitudes, leves ou mais dramáticas, atingem-se objectivos cada vez mais perfeitos.
Costuma dizer-se que o exercício mantém activa a memória e outras capacidades intelectuais.
Falamos de exercícios mentais como palavras cruzadas, cálculos sem calculadora, etc.
Tudo coisas do dia-a-dia e para qualquer um.
Com o exercício físico acontece o mesmo, pois até a postura se torna mais correcta e alia-se a uma nova agilidade.
Resumindo, tudo pode ser útil se conseguirmos discernir como fazê-lo melhorando-nos de modo consciente.
E florescer na adversidade é tão ou mais valioso que florescer na ventura.
Assim sendo, resta desejar dias felizes e, porque não? - dias sempre felizes!

2007-07-03

O Tempo... "in tempo"

3 de julho de 2007

Dia de correria, até parece uma segunda-feira. Todas as tarefas se prolongam e os atrasos sucedem-se num descambar dos tempos.
São minutos aqui e acolá que, à tarde, já levam uma hora de atraso.
Não sei como mas sou perita neste tipo de atrasos e, mais ainda, às segundas-feiras.
Nestes dias gosto especialmente das teorias do tempo sem medida temporal.
Ou seja, a teoria que defende que o tempo não corre, nós é que usamos do tempo para definir o que está parado. Dito ainda de outro modo, o tempo é como uma parede por onde nós vamos deslizando com as nossas horas, tarefas, dias e anos da nossa vida.
O tempo está lá, o tempo é.
Nós vamos patinando ao longo dele por esta vida e por toda a nossa existência que vai deixando como que um diário escrito nessa tal parede do tempo.
- Como se patinássemos no gelo e o gelo é o tempo. É isso?
- Sim, pode ser assim!
- Mas isso quer dizer que tudo o que fazemos fica registado algures.
- Sim, essa é uma conclusão lógica!
- Não sei se gosto dessa responsabilidade…
- Esse receio é só para os irresponsáveis relativamente às suas tarefas.
- A vida então será uma tarefa a cumprir. Certo?
- Assim parece. E de preferência…”in tempo”!

2007-07-02

O abandono

2 de julho de 2007

Ali no chão, em frente à casa, às lojas, à escola, ao arvoredo! Estava ali caída, simplesmente abandonada entre a rua e o passeio.
E ninguém a notava nem a levava porque isso não era possível.
Era de alguém e só esse alguém a poderia procurar, encontrar e levar consigo. E como esse alguém não vinha, ela continuava ali.
Mas não envelhecia, nem apodrecia nem se desfazia. Passavam dias de sol, de chuva, de temporal, de neve e de ventos – e ela não se mexia.
Estava era cada vez mais colada ao alcatrão e ao passeio. Estava era cada vez mais baça mas, de vez em quando, voltava a brilhar, ao sol. A luz do sol dava-lhe força ou energias.
Mas, de resto, continuava ali à espera que a viessem buscar.
- E se não vierem?
- Vêm, têm que vir porque não se pode viver sem ela! Nem sequer sobreviver!
Faz mais que anos, décadas, que a deixaram cair. Mas vais ver que a qualquer momento a vêm procurar. Está na hora!
- Como é que sabes?
- Sei! Olha... ali... aquela figura, ali recortada no horizonte. Olha como vem apressada. Bem te disse que não se pode viver sem ela.
- Vem a chorar. E muito!
- Schiu, que está a chegar!
- Foste tu que a guardaste e protegeste todos estes anos, não foste? Graças te dou! Não sei como fui capaz… posso levá-la…? Olha como brilha outra vez…
- É por ti! De alegria por voltares por ela.
- Que Deus te abençoe !
- A ti também! E nunca mais abandones a tua esperança!
- Já percebi que não é possível viver sem ela! Já percebi que até ao morrer precisamos dela!

2007-07-01

Jacques Brel - Quand on n'a que l'amour

1 de julho de 2007

Quand on n'a que l'amour
A s'offrir en partage
Au jour du grand voyage
Qu'est notre grand amour
.
Quand on n'a que l'amour
Mon amour toi et moi
Pour qu'éclatent de joie
Chaque heure et chaque jour
.
Quand on n'a que l'amour
Pour vivre nos promesses
Sans nulle autre richesse
Que d'y croire toujours
.
Quand on n'a que l'amour
Pour meubler de merveilles
Et couvrir de soleil
La laideur des faubourgs
.
Quand on n'a que l'amour
Pour unique raison
Pour unique chanson
Et unique secours
.
Quand on n'a que l'amour
Pour habiller matin
Pauvres et malandrins
De manteaux de velours
.
Quand on n'a que l'amour
A offrir en prière
Pour les maux de la terre
En simple troubadour
.
Quand on n'a que l'amour
A offrir à ceux-là
Dont l'unique combat
Est de chercher le jour
.
Quand on n'a que l'amour
Pour tracer un chemin
Et forcer le destin
A chaque carrefour
.
Quand on n'a que l'amour
Pour parler aux canons
Et rien qu'une chanson
Pour convaincre un tambour
.
Alors sans avoir rien
Que la force d'aimer
Nous aurons dans nos mains
Amis le monde entier
.
.


.
.
.
.
.
.
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Quando só temos o amor
Para oferecer em partilha
No dia da grande viagem
Que é o nosso grande amor
.
Quando só temos o amor
Meu amor, tu e eu,
Para que cada hora e cada dia
Exultem de alegria
.
Quando só temos o amor
Para viver as nossas promessas
Sem outra riqueza
Que nelas acreditar sempre
.
Quando só temos o amor
Para encher de maravilhas
E fazer brilhar de sol
O cinzento dos subúrbios
.
Quando só temos o amor
Como única razão
Como única canção
E único auxílio
.
Quando só temos o amor
Para vestir de manhã
Com casacos de veludo
Os pobres e os vagabundos
.
Quando só temos o amor
Para oferecer em oração,
Pelos males da terra,
Como simples trovador
.
Quando só temos o amor
Para oferecer àqueles
Cujo único combate
É viver cada dia
.
Quando só temos o amor
Para traçar um caminho
E enfrentar o destino
Em cada encruzilhada
.
Quando só temos o amor
Para opor aos canhões
E só uma canção
Para calar um tambor
.
Então, sem ter nada mais
Que a capacidade de amar
Nós teremos, amigos,
nas nossas mãos
o mundo inteiro
.
Trad. FL