Teilhard de Chardin # O Meio Divino
15 de julho de 2007
Onde estão as raízes do nosso ser? Pois mergulham primeiramente no mais insondável passado. Que mistério o das primeiras células que um dia foram animadas pelo espírito vital da nossa alma! Que indecifrável síntese de influências sucessivas em que estamos para sempre incorporados! É em parte a história toda do Mundo que se representa em cada um de nós através da Matéria. Por mais autónoma que seja a nossa alma, ela é a herança de uma existência prodigiosamente trabalhada, antes dela, pelo conjunto de todas as energias terrestres: ela encontra-se com a Vida e junta-se a ela num nível determinado. – Ora, apenas se encontra introduzida no Universo nesse ponto particular, ela sente-se, por sua vez, assediada e penetrada pela onda das influências cósmicas que há-de ordenar e assimilar. … … …
Se o alimento mais humilde ou mais material é já capaz de influir profundamente nas nossas faculdades mais espirituais, que dizer das energias infinitamente mais penetrantes trazidas pela música dos matizes, das notas, das palavras, das ideias? Não há em nós um corpo que se alimente com independência da alma. Tudo o que o corpo admitiu e começou a transformar, a alma tem por sua vez de o sublimar. Ela faz isso à sua maneira e segundo a sua dignidade, sem dúvida. Mas não pode fugir a este contacto universal nem a este labor de todos os instantes. E assim se vai aperfeiçoando nela, para sua felicidade e correndo riscos, a capacidade particular de compreender e de amar, que constituirá a sua mais imaterial individualidade. … … … não esqueçamos que a alma humana por mais criada à parte que a nossa filosofia a imagina, é inseparável, no seu nascimento e na sua maturação, do Universo onde nasceu. Em cada alma Deus ama e salva parcialmente o Mundo inteiro, resumido nesta alma dum modo particular e incomunicável. … … ...
E assim, cada um, no decurso da sua vida presente, … deve construir, começando pela zona mais natural de si mesmo, uma obra, um «opus», onde entre alguma coisa de todos os elementos da Terra. Em todo o decorrer dos seus dias terrestres ele faz a sua alma. E ao mesmo tempo, colabora numa outra obra, num outro «opus», que ultrapassa, infinitamente, orientando-as no entanto de perto, as perspectivas do seu êxito individual: o acabamento do Mundo. … … ...
O Mundo, pelos nossos esforços de espiritualização individual, acumula lentamente, a partir de toda a matéria, o que fará dele a Jerusalém celeste ou a Terra nova.
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