Escritos de Eva

Aqui Eva escreve o que sonha e - talvez - não só. Não tem interesses de qualquer tipo nem alinhamento com sociologias, política, religião ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Estes escritos podem servir de receita para momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Alguns poemas ou textos... Algumas imagens ou fotos... Mulheres e homens, crianças e idosos podem ler Eva e comentar dando a sua opinião.

2006-04-30

30 de abril de 2006

O PEIXE

Veio um peixe cego
do fundo do mar.
Quis subir ao Céu,
não pôde voar.

Era triste e feio.
Parecia um feixe
de espinhas e lodo,
mais monstro que peixe.

Por seu gosto iria
até numa escada.
Sem pés e sem asas!
Tinha fé. Mais nada.

Bastou. Ficou lindo:
o Senhor Jesus
fez dele um foguete
com os olhos de luz.
.
.
Odylo Costa, filho
.
.

2006-04-29

29 de abril de 2006

Maltratada até em velha. E sempre serena.

Em paz. Sorrindo a todos.
Dons e bemaventuranças usados em desiquilíbrio.
Interesses por dinheiro onde não há trabalho valioso.

Interesses pessoais acima (oh, muito acima) dos familiares e sociais.
A tudo se sobrepondo.
Desgraçados dos bem avisados pois nem essa desculpa têm.
Conhecimento, esclarecimento, são sempre em todas as épocas, causas de felicidade e bem comum.
Serenamente, a velhinha existe.
É um exemplo de sofrimento calado, transmutado em amor e carinho para todos os que a rodeiam.
Desculpa todos os que agem mal pois só podem ser ignorantes.
Antes revoltava-me esta paz imensa que brotava dela.
Hoje que sei mais qualquer coisa, apetece-me recompensá-la.

Faço o possível e o mais que me lembre para defendê-la.
Toda ela irradia amor. Amor e carinho para todos.
Tão simples e tão só. Mas tanta fé.

Tanta fé em Deus.
Quando a observo melhor está no ar, a flutuar.
Toda (completamente, toda) branca.
Uma brancura que ofusca. Como se tentasse olhar para o sol.
Ela, tão miseravelmente sofrida é que me ilumina a mim.
Sorrindo carinhosamente.
Simplesmente. Como só ela consegue ser. Assim...

2006-04-28

28 de abril de 2006

Amanhece sobre as águas do rio. Um sol calmo. Céu limpo e sem nuvens.

A luz do sol ilumina devagarinho as águas, a praia, os namorados, os barcos de pescadores.
As lágrimas das despedidas.
A alegria para quem regressa no novo dia.
Há quem lute no mar. Há quem lute na terra. Há quem espere - de pé.

Há quem espere com esperança e fé.
A fé que tudo move. A alma que se anima de fé.
O corpo que se anima de vida. De alegria interior.
Aparece uma pérola. De fé. De amor.

À sua volta formam-se raios. Depois nuvens de estrelas.
Nuvens que chegam a nebulosas.

Para logo se espraiarem e a tudo chegar e tocar com o seu brilho.
Como por magia tudo se altera e melhora por essas estrelas.
Não sei como não são percebidas por toda a gente - são tão lindas e brilhantes.
Algumas pessoas sentem-nas.

Outros páram mesmo, como se quisesssem ver outra vez, para confirmar.
Pois é, está tudo à nossa volta.
Mas só alguns dão atenção.
Alguns outros percebem também a mensagem do amor.

2006-04-27

27 de abril de 2006

Lábios pretos, queimados por não sei o quê. Queimaduras no rosto.

O corpo com várias ligaduras. Mãos muito inchadas.
Análises e análises. E muitos exames médicos.
Olhos baços. Sempre a querer dormir.

Mas olha para mim.
Não é impressão, não. Ele está a olhar mesmo, apesar das pálpebras semi-cerradas e dos olhos alheados.
Consegue dizer - água - num sopro.

Aliás, mais um sopro a pedir água.
"Diz-me quanto tempo tenho comigo mesmo. Diz-me quanto tempo tenho para te entender a ti."

Entoa a canção na minha cabeça.
Dou-lhe água. Ai, tanta água.

E à sua volta está aquela névoa branca que conheço tão bem.
As lágrimas rolam no seu rosto.

O esforço para comer e engolir é tão grande...
A névoa está mais densa.

Parece um avião na nuvem (com as devidas diferenças entre pessoa e avião).
Uma amiga pergunta-me se vejo a névoa. Tão bonita. E que mais?
Engasga-se. Mostra o desespero da doença cansada.

Da fartura da dor.
Deixo-o limpinho. E pergunto-me se também sairá a voar ainda hoje.
O voo é símbolo de liberdade.
É assim, não é?
É desejável assim.

2006-04-26

26 de abril de 2006

O coração canta um hino de amor.

"É um melodrama que canto para ti. "
Este é o refrão de uma canção.
Tudo na vida se resume ao peso e leveza do amor.
O amor condicionado por nós enquanto ligação de sentimento.
O amor incondicional, que se liga a todos enquanto partes do único todo.

Este é o amor fraterno, caridoso e amigo.
Aquele que traz a paz ao próprio e aos outros.
É um amor interessado no bem comum.

Mas é também o amor por si próprio.
Mesmo quando o próprio - eu - parece ser pouca coisa para o que gostaríamos que fosse.
Mesmo que esse - eu mesmo - seja uma ninharia na razão do seja que o próprio espera, deseja e exige de si mesmo.

Paciência. Só podemos ser o que somos e melhorar a partir desse conhecimento.
Só podemos apreciar-nos nas justas medidas que temos.

Boas ou más, só podemos melhorá-las e amar carinhosamente o que temos.
Cuidar bem das qualidades para que prevaleçam e se projectem cada vez mais fortes.

E coragem para esta perseverança, pois vale a pena.
Tem que valer a pena.

2006-04-25

25 de abril de 2006

Estava ali um polícia. Ali em frente à fonte com repuxo.

Estava apático o homem.
E sentado, cabeça para trás e pernas encolhidas.
Sentia-se esquisito, meio atordoado.

Alguns com ele que não lhe davam sossego.
Pedi-lhe que observasse á água e pensasse em coisas boas, alegres.

Mas ele ia partir e não estava nada virado para qualquer optimismo.
Fiz um esforço e consegui, ao fim de algum tempo, a sua colaboração para uma certa calma e paciência.
Ele estava de cinzento escuro. Aos poucos alterou-se para o uso de cores terra - castanho, bege e areia.

No entanto continuava a preferir os tons sem brilho.
Para o alegrar - disse-lhe - podia puxar um pouco de lustro e dar brilho.
Já estava por tudo. Concordou e adoptou o azul médio.
Ficou bonito na farda. Deixei-lhe uma flor - um lírio.
Ficou com ar satisfeito mas muito cansado.

Cansado de tanta responsabilidade.
Mas quem sente as responsabilidades é um dos escolhidos para cumprir tarefas mais elevadas.

Só alguns são os escolhidos.
A água continua limpa e a correr.

2006-04-24


24 de abril de 2006

Ali estava ela no corredor; ali, na bifurcação entre as consultas e os tratamentos.
Tão bonita, já velhota, a fazer um esforço doido para não cair.
Ali estava em pé, hirta toda ela, negra de tanta dor.
Cansada de tanto reagir, sempre com outros na mente.

Sempre a querer ajudar. Sempre de pé.
Ali estava ela, à minha espera, como que a planar no corredor.
Cumprimentei-a e falei-lhe da dor.

Tanta dor... Tinha que a deixar ir.
Despedir-se dela toda.
Ninguém aguenta tanto sofrer.
Comecei a envolvê-la com brisa de carinho e amor.

Embalei-a suavemente e o negro peso foi-se soltando.
Descendo e caindo.
Tanta dor a cair no chão.
Ela também ia caindo atrás da dor.

Mas o amor à vida, à alegria; ao direito de ser feliz; de sentir-se feliz - foi maior.
Ficou ao pé de mim. Nem tinha forças para sorrir.
Mas continuava de pé.

Agora toda em rosa e branco brilhando.
Um feixe de luz cheio de amor subiu ao céu, agradecido.
Foi uma festa cheia de brilho e paz.

2006-04-23

23 de abril de 2006

É contra mim que luto.
Não tenho outro inimigo.
O que penso,
O que sinto,
O que digo
E o que faço,
É que pede castigo
E desespera a lança no meu braço.

Absurda aliança
De criança
E adulto,
O que sou é um insulto
Ao que não sou;
E combato esse vulto
Que à traição me invadiu e me ocupou.

de Miguel Torga


2006-04-22

22 de abril de 2006

Um elefante, o chefe da manada, estava ali a olhar fixamente para mim.
Via-lhe perfeitamente o olho grande e atento, com as muitas rugas da pele empoeirada. A olhar para mim. Afastei-me um pouco e vi a manada andando, cheia de calma, baixo o sol quente e ar muito seco.
Percebi que precisavam de água..

As árvores aparecem e, com elas, um oásis de água barrenta.
As árvores de folhas frescas eram muitas e por uma grande região.

A manada desta vez estava salva.
A região era de uma secura dramática.
Uma luz ou uma estrada passou pelas árvores e veio iluminar todos os que bebiam ou se molhavam na água.
Todos parámos a observá-la.

Ela elevou-se e ainda mais grandiosa, envolveu-nos.
E voámos alto. Para um novo céu, um outro oásis.

Ficámos todos mais bonitos e brilhávamos como essa estrada.
O chefe da manada abraçou-me na sua tromba.
A água estava completamente limpa e corria um rio.

Um rio novo de esperança.

2006-04-21

21 de abril de 2006

Querida avó, sempre bonita. Sempre doente. Sempre amorosa.

Sempre dependente. Sempre com um sorriso.
Pele muito branca, cabelos branco areia, olhos d'água.
Muito frágil, protegida por milhares de conceitos.
Uma vida imensa.

Uma vida cheia de emoções.
Um coração cor de coral, muito vivo, sempre a palpitar de preocupação - até pelas coisas boas.
Mas por dentro o seu corpo está a deixar-se ir.

Todo o seu interior está a murchar.
Só o seu coração vive luminoso.
E de repente, do seu interior, vem ela mesma, cheia de luz rosa. Enorme.
De pé, a sair e querendo banhar-se numa luz maior.

Flores de todas as cores rodeiam-na.
E cresce. Cresce até ao céu.
E eu estou banhada... em lágrimas.

2006-04-20

20 de abril de 2006

Nenúfares do lago, com flores, muitas flores. E muitas cores por cima dos verdes nenúfares.
As suas raízes veêm-se na água, tão clara.
Peixes e sapos pequenos aparecem e desaparecem entre a água, as pedras e as plantas.
As pessoas passeiam e passam curiosas pelas bordas do lago.
As crianças são as mais entusiastas mas também as mais distraídas.

Os baloiços e escorregas, ao lado, estão à espera delas.
O sol faz, de tudo isto, um palco iluminado onde pessoas e animais se movimentam.
Loiças e cheiros apetitosos convidam para almoçar ali mesmo, nas mesas de madeira.
Chapéus de sol e árvores dão as sombras.
A luz do sol tudo purifica.
As cores são as mais nítidas. A vida, mais alegre e agradável.
O sol é uma carícia amorosa para todos, sem excepção.
Quando o dia parte, a lua tenta iluminar do mesmo modo, mas a sua luz é mais suave.
E em vez da vivacidade do dia, ela convida ao sonho e ao aconchego.
De dia como de noite a felicidade espreita sempre.
É bom confiar nela e deixá-la entrar na nossa vida.

2006-04-19

19 de abril de 2006

Correndo, andando. Caminhando sempre.

Em frente é o caminho.
Lojas cheias de produtos.

Ruas cheias de gente.
Gente que tudo comenta e de tudo fala.
A casa na colina e o seu silêncio.
Tentador esse silêncio.
No alpendre - é tão bom estar; ficar ali, simplesmente.

Admiração pela natureza que nos rodeia.
Noutro lado as pessoas passam apressadas umas pelas outras.
Um medalhão azul escuro num fio e uma moldura dourada sobressai pelo forte brilho que leva consigo - não sei se do ouro ou da pedra azul.
Pedras azul água aparecem por todo o lado.

E desafazem-se em água de rio.
Límpido, cristalino. Correndo em leito rochoso.
Água limpa que corre a boa velocidade para o mar...

E o mar evapora-se no céu.
O céu torna-se amarelo do sol.
E a luz é cada vez mais forte.
O planeta é todo ele essa luz fantástica.

Enche-se de flores.
Um planeta florido e e iluminado.
Assim seja!

2006-04-18

18 de abril de 2006

Dúvidas e mais dúvidas.
Se perseverarmos que o "não" é sempre certo, a coragem de avançar na confiança e no invisível torna-se mais acessível e facilitada pela vontade lúcida. Numa bola de cristal ela sobe, qual uma criança, pelos céus.
A bola parte estilhaçando-se pelo topo e, depois, toda ela. Completamente.
Mas a ciência não cai.

Pelo contrário, eleva-se numa coluna vertical, agora com a figura da estátua da Liberdade.
Com toda uma chama branca, sem arder, mas a brilhar sem cessar.
Subindo sempre pela coluna vai perdendo forma.

Cada vez mais transparente chega a uma plataforma de luz a jorros.
Sorrindo, acena um adeus entre flores.
Flores, flores... milhões de flores.
Os céus enchem-se de flores brancas que formam nuvens, de dia.

E estrelas em nebulosas, à noite.
Ouvem-se cantares.
Melodias suaves e bem cantadas.
Uma orquestra inspirada por anjos.
Tudo roda em remoinho suave.
Parece que o sonho acabou.
Hoje está um dia de sol lindo.
Vamos à praia.

2006-04-17

17 de abril de 2006

Lantejoulas azul céu - no céu - e missangas brancas.
Oscilavam e dançavam - lindas de ver.
Espanto para a vista. As nuvens alteavam para as verem melhor.
A brilhar no céu.
Quando o sol lhes oferecia a sua luz directa, brilhavam... brilhavam...
Os dias sucedem-se. A natureza renova-se e agora é primavera.
As emoções seguem o brilho das lantejoulas, do sol, do céu.
Toda a natureza está azul.

Subiu e integrou-se no céu.
Um oásis nas alturas. Possamos nós, simples mortais, elevarmo-nos aos céus e brilhar para o Todo-Poderoso Criador!
E uma estrela maior brilhou azul.

**************

"Se os homens quiserem
"Se todos souberem
"Fazer a paz
"A vida na Terra
"Seria mais bela
"Mais cheia de luz..."

2006-04-16

16 de abril de 2006
ROSAS

Elas.
Transcendência
Da vegetação.
Elas
E só elas.
Elas
Onde estão.
Elas.
Calendário.
Maio adolescente.
Elas.
Manhã clara.
Tarde sem poente.
Oiro de Poeta.
Sol do meu caminho
Elas,
Pelo aroma,
Pela cor,
Seu vinho...
Elas,
Como os anjos.
Anjos, revoada...
Elas
Como os anjos.
Elas
E mais nada.
.
de Pedro Homem de Mello
. .
.
..

2006-04-15

15 de abril de 2006

Andando sobre as ondas e correndo sobre a espuma assim aparecem as gaivotas.

Mas elas afinal estão a voar.
Mais uma vez a ilusão do que acontece.

É sempre preciso vigilância para a verdade.
A verdade ou realidade é sempre uma dúvida a ser peneirada com muito, oh! muito cuidado.
Tudo para a medida certa. Nem dúvidas em demasia nem, muito menos, certezas.
Análises e lógicas em quantidade. Técnicas e científicas, com princípio, meio e fim. Programadas pelo raciocínio e pela lógica.
E então o que sobra vai validar o que os sentidos perceberam.
Porém, sempre a atenção. Deve estar alerta para qualquer pormenor que a distração ou o cansaço não viram. Ou qualquer detalhe novo. Ainda pode alterar o conjunto dos resultados.
Depois da revisão em partes e da sua relação com o global.

Então, o que parece, tem fortes probabilidades de ser mesmo assim.
Até nova ordem das coisas.
As gaivotas enchem os ares com o seu piar forte e decididas a sobreviver.

Realidade na vida!

2006-04-14

14 de abril de 2006

Parece um berlinde a voar. Azul e branco.
À volta - em várias voltas - estão grinaldas de flores amarelas e brancas.
Parece uma bola em festa.
E vai rodando em si mesma e ao mesmo tempo sai disparada a alta velocidade.
Segue uma via iluminada e com um sol brilhante ao fundo.
Lá chegada (ao sol) vai-se transformando em luz brilhante e vai ficando transparente, com reflexos amarelo-dourado no seu contorno e nos laços da grinalda.
Continua a rodar em si mesma dirigindo raios brilhantes em todas as direcções.
Será que a ciência poderia explicar este feito? Ou simplificaria a sua tarefa sentenciando que é tudo ilusão, imaginação ou sonho.
Penso que, e apenas seguindo a lógica da evolução tecnológica e análise interessada dos cientistas. Bom, penso que um dia haverá possibilidades de analisar a ilusão/sonho de modos diferentes e chegar a outros factos científicos.
Pois não diz um poeta que quando um homem sonha o mundo pula e avança... ?
Espero, pois, pelos dias do esclarecimento primordial.

2006-04-13

13 de abril de 2006

À beira da estrada alcatroada, um rapazinho de óculos azuis esperava sentado numa grande pedra.
Um rapaz quase-homem, à frente da porta da sua casa estendeu-me um pequeno ramo de flores.
Uma senhora de idade deu-me um ramo de flores silvestres, como o da Páscoa, com papoila e espiga e o resto, igualzinho.
Um senhor de idade esperava numa igreja.
A luz forte do Sol quente em dia de verão iluminava a rodos.
Um senhor de túnicas sobrepostas, brancas e bordeaux, aproximou-se do homem da igreja, estendeu-lhe a mão e levou-o devagarinho. Desapareceram no meio de uma nuvem de luz.
O rapaz da pedra, cheio de mágoas e de angústias, convencido que ninguém o amava, recebeu um raio de luz do Sol, exclusivo para ele. E duvidou das suas certezas de desamor.
O rapaz quase-homem e a senhora de idade sorriam e a luz do Sol inundava-os fazendo que brilhassem com a sua alegria.
E lembrei-me de uns versos que falavam de um rapaz maravilha, que explicava que o mais importante era amar e ser amado em eterno retorno.

2006-04-12

12 de abril de 2006

Voando sempre a uma velocidade incrível vou sempre vendo a luz, aonde devo chegar.
No meio da escuridão ela é o único guia do meu destino.
Cheguei e parece ser uma construção industrial de algo tóxico, porque os guardas têm máscaras na cabeça - azuis escuras e só os olhos se vêem. Por acaso... a olharem para mim friamente.
Mas não me dão importância.
Entretanto vão-se embora em carros, ou jipes.
Fico a olhar para o que parece ser uma administração abandonada e enormes armazéns vazios.
Nesta altura os armazéns abrem-se ao meio e enchem tudo de luz.
O chão abre também em fendas.
Agora os sulcos vão para mais longe deixando antever túneis e túneis seguidos.
Em subsolos mais fundos saem pessoas "a voar" como se fossem libertas de uma prisão.
Vestidas com túnicas de cores claras ou escuras.
O chão continua a abrir e a mostrar mais túneis.
E lá, no espaço mais fundo, está uma rapariga de túnica clara. Assustada, mas estende-me a mão para a ajudar a subir.
Eis que vem a voar também.
Observando melhor vejo que todos seguem os reflexos de uma luz fortíssima, em grande alegria. Outros esperam-nos nessa zona iluminada, também em grande júbilo.
É um reencontro feliz.

2006-04-11

11 de abril de 2006

As flores de papel voavam e rodavam.
Amarelo, castanho... rodavam e rodavam no mar.
E no céu rumo ao horizonte e ao sol.
Pareciam sorrir para mim, como se nada do que me preocupava fosse importante. A não ser o avançar. Avançar sempre e sempre para a luz.
Pois a luz ilumina também as soluções.
A vida vale sempre a pena e temos de a tornar tão significativa quanto possível.
Para nós e para os que nos rodeiam.
Um pássaro entoa a sua cantiga à Primavera ou à namorada.
É sempre uma melodia pequenina e alegre.
Esconda-se a tristeza da injustiça sentida - escondam-se as lágrimas antes de aparecerem.
É tempo de tentar e de conseguir passar pelas nuvens.
Pelos céus até o sol aquecer outra vez.
Porque não podemos desistir de o encontrar a brilhar para nós.

2006-04-10

10 de abril de 2006

Um bonito e grande amor perfeito sobre a mesa branca, numa espécie de taça baixa, também branca.
O escritor pensa nos versos que referiam o tempo da eternidade cruzando os céus e de conhecer o sentido recto da verdade.

E da força do amor que a todos os desgostos se sobrepõe, construindo a felicidade de quem o sente.
Noutra poesia relembra a força e a solidão que o deserto imprime.

Esse deserto que fica para sempre na lembrança, como uma voz - em vez do som do vento e que se reconhece aos primeiros sons melódicos, como recordações doces como o mel, atingindo vibrações elevadíssimas que tocam os céus, e mais além, se possível.
Doutra poesia ainda, surgem na sua memória os versos - nostalgia do afastamento e lonjura que a vida impõe por vezes.
E a dor que atravessa o coração parece mais suave quando nasce o dia, pois vem a esperança que o coração possa voltar a cantar o hino do amor, sem drama.

Como o nascer de um novo destino.
O escritor adormeceu no meio de lembranças, sonhos e luzes na sua alma aconchegada em versos de igual sentir.

2006-04-09

9 de abril de 2006

NOSTALGIA


Nesse País de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que plas aias reparti
Como outras rosas de Rainha Santa!

Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi...
Mostrem-me esse País onde eu nasci!
Mostem-me o Reino de que eu sou Infanta!

Ó meu País de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!

Quero voltar! Não sei por onde vim...
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!


de Florbela Espanca

2006-04-08

8 de abril de 2006

Olhei para o alto e vi uma flor azul; não, duas.
Aliás, três - uma campânula, um cravo e uma rosa.
Voltamos à primeira forma: uma flor, amor-perfeito. Azul também.
Agora formam um pequeno bouquet.
Parece que é... para mim. Agradecida - são lindas.
Como devolver a graça? Ah, o amor incondicional, o perdão de tudo, incluindo o mais ofensivo e difícil.
Sair de mim própria, observar o mundo.
As suas peripécias, alegrias e devastações.
É espalhar o amor para todos com reforço de paz para os mais negativos.
E a estas águas - que faço... derramo-as no mar.
Olha, formam-se luzes onde foram deitadas.
E essas luzes ou estrelinhas sobem ao céu.
Serão humidade ou lágrimas - conforme as convicções.
Volto a mim mesma e sinto um aperto no coração - foi bonito, mas como vou conseguir sentir um amor assim por algumas pessoas tão antipáticas e tão (oh! tão, tão ) próximas.
Tem que ser possível garantir as emoções educadas de modo tão sublime.
Um modo tão divino, será asssim!

2006-04-07

7 de abril de 2006

Ela corre para dar a papa. E pede outro tabuleiro e mais outro.
E corre pelos corredores com um pão de prémio para o seu "almoço"?
Muita comida à sua volta mas não lhe deve tocar.
Faz o bar - o café, o leite, o chá, água, chocolate, bolachas e bolachinhas.
Sempre a correr ainda tem tempo para inventar versos e dedicar uma cantiguinha.
Sorri e ralha também.
Fala sem parar e vai sempre sorrindo.
Em nome da luz e é uma luz para muitos. Pede as esmolas e sai a correr para vender ovos e haveres da quintinha.
E pelo dia fora, ora num serviço ora noutro, sempre a correr.
Muita gente conhece esta luzinha.
Todo serviço é de Deus e por bem quando é feito com coração e devoção ao próximo.
Sobretudo se está tão próximo e dependente de uma simpatia.
De um amor carinhoso e dedicado. Enche-se o dia de luz.

2006-04-06

6 de abril de 2006

Pela estrada, de terra batida e empoeirada. O sol forte a encher tudo de luz e calor.
Não posso olhar para trás senão não consigo avançar, fico presa em pormenores.
E eu já sei que, mais tarde, nem pormenores sequer serão.
Mas também sei que agora eles teriam força para me travar e até voltar atrás.
A vida também é sempre em frente. Os segundos, os minutos, o micro-tempo segue sem a tentação de parar ou pensar.
É esse o seu objectivo, seguir sempre para o futuro. Não vacilar.
A estrada apresenta arbustos pelas bermas. Primeiro, muito espaçados. Agora, mais juntos e, no horizonte, a cor é mais verde.
Deve haver água perto. O calor é muito.
Também a satisfação de ainda continuar a caminhar em frente.
Entretive-me com os pensamentos e já ali está o meu ponto de repouso.
Parece um oásis depois de um deserto.
A alma também fica sequiosa depois do deserto das sensações.
O lugar ao sol conquista-se e tem mesmo muito sol.

2006-04-05

5 de abril de 2006

As portas de guarda-vento abriram-se e entrei num corredor de hospital, com quartos à direita e gabinetes à esquerda.
Carrinhos de metal estavam pelo meio denunciando a azáfama da higiene dos doentes. E também dos quartos.
Cheiros de café com leite e flocos ou papas. Esse era o carrinho dos pequenos almoços - babetes de papel, tigelinhas, colheres e guardanapos - tudo de uma só utilização.
Pães com manteiga com aspecto fofinho e os doentes mostram a satisfação de os poderem já comer.
A saúde é uma benção que só se nota quando se perde a independência.
Olhares parados, alguns choros - outros alegres porque tiveram "alta".
Uma estrela brilhante eu envio para cada quarto. Eles volvem a cabeça e dão um sorriso tímido.
Alguns estão demasiado quietos e parecem ter frio. Vou tapá-los.
Surge um brilhozinho nos olhos - como diz a canção.
E eis talvez o mais importante do dia - esse brilhozinho - que apareceu nos olhos de quem sofre em silêncio.

2006-04-04

4 de abril de 2006

Passado o portão do templo a luz encandeava. Não conseguia ver nada.
Aos poucos porém pareceu-me ver um campo verde e ao pé de mim, na minha direcção, um cordeirinho de lã muito branca e macia.
Ficou junto a mim a balir. Até que resolvi pegar-lhe ao colo.
Como era macio...
Comecei a andar pelo campo que se transformou no cume alto de uma montanha nevada.
Mas ao pé de mim e do cordeiro havia relva fresca e flores de todas as cores.
Apareceu uma criança, pequena e, juntos, fomos subindo o que faltava da montanha.
A vista era tão linda e deslumbrante para baixo como para o céu.
Parámos à borda de um lago, pequeno e redondo, a descansar.
Uma luz amarela e forte do Sol iluminava tudo.
A beleza - será ela própria um paraíso?
Tudo rodopia à minha volta.
Ohhhhh! a miragem...

2006-04-03

3 de abril de 2006

Uma velhota curvada, mesmo curvada.
Parece não ter idade ou parece que não lhe cabem mais anos.
Ao vê-la, com o cajado e o estilo da roupa, tão velha quanto ela, lembrei imagens da Idade Média.
Não deu por mim e continuou a caminhar entre a terra e as ervas molhadas do trilho que saía da "sua" casa em ruínas.
Já perto do portão que dava para o quintal olhamo-nos frente a frente, mas ela desviou-se rápida porque tinha pressa. Do quê? Não faço ideia. Mas parecia seguir uma rotina de muitos e muitos anos.
Expliquei-lhe que já podia ir embora, já estava tudo tratado e as épocas eram outras. Que deveria descansar e dar o lugar e trabalho a novas gerações e crianças que poderiam crescer ali.
Nem disse adeus... mas foi indo.
Chamei-a e fui no seu encalço por um pouco - dei-lhe uma luz e uma rosa para o caminho.
Pareceu ficar mais satisfeita.
Conforme se foi afastando a sua roupa foi secando e - nem dá para acreditar - mas era como se tivesse sido vestida de lavado.
Até o seu cabelo parecia lavado.
Foi para descansar finalmente em paz.

2006-04-02

2 de abril de 2006

Pede-se a uma criança: Desenha uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

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de Almada Negreiros
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2006-04-01

1 de abril de 2006

No reino dos sonhos e das estrelas, brilhantes pontos luminosos que tudo envolvem. Que bom é estar aqui! Não há mais nada e mais nada é preciso.
Rodopio uma e outra vez...
E tenho que vir embora mas trago no coração e na lembrança o bem estar e a paz de estar ali. Simplesmente estar.
Dizem que a força do amor é o mais importante e até imprescindível para encontrar o paraíso dentro de nós.
Pois então deveria ser fácil encontrá-lo. E ficar lá talvez fosse fácil também.
Talvez também a paz e a felicidade dos povos fosse fácil de conseguir. E ficar lá, nesse estado beatífico.
Talvez seja apenas necessário cada um abrir o seu coração para o dia-a-dia, para os bons e os maus encontros.
Talvez a poluição se perfumasse de suaves e doces aromas. E de cinzento se colorisse como o arco-íris.
Talvez pudéssemos cantar em vez de amargurar e ser o melhor possível de nós próprios em cada momento.
E talvez pudéssemos todos ficar no reino das estrelas e para sempre num coração, também ele cheio de luz.