27 de abril de 2006
Lábios pretos, queimados por não sei o quê. Queimaduras no rosto.
O corpo com várias ligaduras. Mãos muito inchadas.
Análises e análises. E muitos exames médicos.
Olhos baços. Sempre a querer dormir.
Mas olha para mim.
Não é impressão, não. Ele está a olhar mesmo, apesar das pálpebras semi-cerradas e dos olhos alheados.
Consegue dizer - água - num sopro.
Aliás, mais um sopro a pedir água.
"Diz-me quanto tempo tenho comigo mesmo. Diz-me quanto tempo tenho para te entender a ti."
Entoa a canção na minha cabeça.
Dou-lhe água. Ai, tanta água.
E à sua volta está aquela névoa branca que conheço tão bem.
As lágrimas rolam no seu rosto.
O esforço para comer e engolir é tão grande...
A névoa está mais densa.
Parece um avião na nuvem (com as devidas diferenças entre pessoa e avião).
Uma amiga pergunta-me se vejo a névoa. Tão bonita. E que mais?
Engasga-se. Mostra o desespero da doença cansada.
Da fartura da dor.
Deixo-o limpinho. E pergunto-me se também sairá a voar ainda hoje.
O voo é símbolo de liberdade.
É assim, não é?
É desejável assim.
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