Escritos de Eva

Aqui Eva escreve o que sonha e - talvez - não só. Não tem interesses de qualquer tipo nem alinhamento com sociologias, política, religião ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Estes escritos podem servir de receita para momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Alguns poemas ou textos... Algumas imagens ou fotos... Mulheres e homens, crianças e idosos podem ler Eva e comentar dando a sua opinião.

2006-04-27

27 de abril de 2006

Lábios pretos, queimados por não sei o quê. Queimaduras no rosto.

O corpo com várias ligaduras. Mãos muito inchadas.
Análises e análises. E muitos exames médicos.
Olhos baços. Sempre a querer dormir.

Mas olha para mim.
Não é impressão, não. Ele está a olhar mesmo, apesar das pálpebras semi-cerradas e dos olhos alheados.
Consegue dizer - água - num sopro.

Aliás, mais um sopro a pedir água.
"Diz-me quanto tempo tenho comigo mesmo. Diz-me quanto tempo tenho para te entender a ti."

Entoa a canção na minha cabeça.
Dou-lhe água. Ai, tanta água.

E à sua volta está aquela névoa branca que conheço tão bem.
As lágrimas rolam no seu rosto.

O esforço para comer e engolir é tão grande...
A névoa está mais densa.

Parece um avião na nuvem (com as devidas diferenças entre pessoa e avião).
Uma amiga pergunta-me se vejo a névoa. Tão bonita. E que mais?
Engasga-se. Mostra o desespero da doença cansada.

Da fartura da dor.
Deixo-o limpinho. E pergunto-me se também sairá a voar ainda hoje.
O voo é símbolo de liberdade.
É assim, não é?
É desejável assim.