24 de abril de 2006
Ali estava ela no corredor; ali, na bifurcação entre as consultas e os tratamentos.
Tão bonita, já velhota, a fazer um esforço doido para não cair.
Ali estava em pé, hirta toda ela, negra de tanta dor.
Cansada de tanto reagir, sempre com outros na mente.
Sempre a querer ajudar. Sempre de pé.
Ali estava ela, à minha espera, como que a planar no corredor.
Cumprimentei-a e falei-lhe da dor.
Tanta dor... Tinha que a deixar ir.
Despedir-se dela toda.
Ninguém aguenta tanto sofrer.
Comecei a envolvê-la com brisa de carinho e amor.
Embalei-a suavemente e o negro peso foi-se soltando.
Descendo e caindo.
Tanta dor a cair no chão.
Ela também ia caindo atrás da dor.
Mas o amor à vida, à alegria; ao direito de ser feliz; de sentir-se feliz - foi maior.
Ficou ao pé de mim. Nem tinha forças para sorrir.
Mas continuava de pé.
Agora toda em rosa e branco brilhando.
Um feixe de luz cheio de amor subiu ao céu, agradecido.
Foi uma festa cheia de brilho e paz.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home