Escritos de Eva

Aqui Eva escreve o que sonha e - talvez - não só. Não tem interesses de qualquer tipo nem alinhamento com sociologias, política, religião ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Estes escritos podem servir de receita para momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Alguns poemas ou textos... Algumas imagens ou fotos... Mulheres e homens, crianças e idosos podem ler Eva e comentar dando a sua opinião.

2008-06-30

Filme

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- Harmonização de interesses. Se é difícil conseguir harmonizar os próprios interesses, imagine-se entre várias pessoas.
Dois ou mais indivíduos e as opiniões são mais que divergentes e…
- Olha, estão a abrir a porta!
Tudo tão velho e sujo lá fora mas cá dentro, embora tudo velho também, está brilhante e bem limpo.
- Está um homem de mangas arregaçadas ao piano.
- Isto parece uma espécie de bar. Tanto fumo e música e pessoas que andam por ali, ora enlaçadas ora a circular entre as mesas.
- Pois, parece um bar mas estamos a meio da tarde e aqui parece noite já a espreitar a madrugada.
- É o problema do tempo… E já reparaste nas luzes? Fazem lembrar os filmes que retratam os primeiros anos de 1900.
- Sim, até as roupas. Mas não dão por nós?
- Ora essa! Estão a falar connosco há imenso tempo. Eu é que não percebo a que se referem. E também não devo ser quem eles pensam.
- Ser, podes ser e podes não te lembrar.
- Olha, a porta é já ali e vai abrir agora. Aproveitemos!
- Está bem, vamos sair! Mas que é isto?
- Isto? Isto… agora, é um deserto com marcas e rodados de jipes.
- Pronto! Acabou! Sabes que mais? Não gostei deste filme!
- Desta vez, eu já nem sei qual é a parte da nossa realidade e a do filme…. Há realizadores e… realizadores.

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Lyubov Popova
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Disse Virgínia Wolf: Uma hora, alojada no bizarro elemento do espírito humano, pode valer cinquenta ou cem vezes mais que a sua duração medida pelo relógio; em contrapartida, uma hora pode ser fielmente representada no mostrador do espírito por um segundo !
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2008-06-29

Khalil Gibran # O Dom

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ENTÃO um homem rico disse:
- Fala-nos do Dom.

E ele respondeu:

- Dais muito pouco,
quando dais daquilo que vos pertence.

Quando vos dais a vós mesmos
é que dais realmente.

Que é aquilo que vos pertence,
senão coisas que conservais ciosamente,
com medo de vir a precisar delas amanhã?

E amanhã,
que trará o amanhã
ao cão demasiado prudente
que enterra os ossos na areia movediça
enquanto segue os peregrinos
a caminho da cidade santa?

E que é o medo da miséria,
senão a própria miséria?

Quando o vosso poço esta cheio,
não é o medo à sede
que torna a vossa sede insaciável?

Alguns dão pouco
do muito que têm,
e fazem isso
em troca do reconhecimento,
e o seu desejo oculto
corrompe os seus dons.

Outros têm pouco
e dão tudo.

Estes são os que acreditam na vida,
na bondade da vida,
e o seu cofre nunca está vazio.

Há quem dê com alegria,
e esta alegria é a sua recompensa.

Há quem dê cheio de dores,
e essas dores são o seu baptismo.

Há ainda quem dê, inconsciente, da sua virtude,
sem nisso sentir dor nem alegria.
Dão como os mirtos do vale
que a espaços atiram para o céu
o seu perfume.

É bom dar quando nos pedem;
e é bom dar sem que nos peçam,
como bons entendedores.

E para o homem generoso,
procurar aquele que vai receber
é maior alegria do que dar.

E haverá alguma coisa
que possais conservar?
Tudo quanto possuís
será dado um dia.

Portanto, dai agora,
para que o tempo de dar seja vosso
e não dos vossos herdeiros.

Muitas vezes dizeis:
- Gostava de dar
mas só aos que merecem.

As árvores dos vossos pomares
não falam assim,
nem os rebanhos das vossas devesas.

Dão para poderem viver,
porque guardar é perecer.

Por certo
aquele que é digno de receber
os seus dias e as suas noites,
é digno de receber de vós
tudo o resto.

E aquele que mereceu
beber do oceano da vida
merece encher a sua taça
do vosso regato.

E que maior merecimento
do que aquele que reside
não na caridade,
mas na coragem e na confiança
de receber?

E quem sois vós
para que os homens
devam rasgar o peito diante de vós,
vencendo o orgulho,
para poderdes ver o seu mérito
a descoberto
e a sua altivez manifesta?

Procurai primeiro
merecerdes ser doadores
e instrumentos de doação.

Porque, em verdade,
é a vida que dá à vida,
e quando julgais ser doadores,
sois apenas testemunhas.

E vós que recebeis
– e todos sois recebedores –
não atireis para cima de vós
o peso da gratidão,
sob pena de impordes um jugo
a vós mesmos e àquele que dá.

Mas elevai-vos
juntamente com o doador,
usando os dons como asas.

Porque ligar demasiada importância
à vossa dívida
é duvidar da sua generosidade,
que tem por mãe a Terra magnânima
e Deus como pai.
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de Khalil Gibran
in “O Profeta”

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Disse Khalil Gibran : Trabalhar com amor é deixar em quanto fazeis um sopro do vosso espírito !
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2008-06-28

Seguir em frente

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Na sala de mobiliário simples e de paredes brancas, está um vulto enorme, em pé a um canto, à espera.
A porta abre-se, do lado da rua, e entra uma pessoa.
O vulto, assim, já pode sair sem ser notado.
Mas quando está mesmo a transpor a porta, a senhora que entrou vira-se e ainda o vê.
Assustada, vai ver melhor e fecha a porta.
Vai, em seguida, para o gabinete de trabalho e vai pensando quem seria aquele. Já lá estaria ou entrara e saíra à pressa?
No entanto não dava conta de faltar alguma coisa.
Logo se veria. E a figura não lhe parecia completamente estranha. Parecia-lhe alguém conhecido…
Daí a um bocado, lembrou-se quem lhe parecia ser.
Era um homem sempre amargurado e que assegurava ser vítima da má-vontade de toda a gente. Passava os dias melindrado e a seguir isolava-se.
Resolvido, para ela, o mistério, restava desejar-lhe que um dia confiasse na possibilidade de ser feliz.
Simplesmente isso. Ser feliz! Seguindo o seu caminho sem dar tanta importância aos outros ou ao seu passado sofrido.
Ser capaz de seguir em frente!
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Daniela Amaral
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Disse Albert Einstein: Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente !
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2008-06-27

Aquela estrela – além...

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Uma corrida contra o horror.
Rápido e acelerado, ele sobe a rua.
Tudo o horroriza: a casa onde estava, as pessoas que encontra, as ruas que tem de percorrer até chegar ao carro…
Curioso! É noite e a luz dos candeeiros não pode ser assim tão forte, mas ilumina tanto que uns metros à sua volta parece ser mesmo dia.
Deve ser impressão sua...
De passagem, vai distribuindo cumprimentos de Boa Noite a quem conhece.
E hoje está a encontrar imensa gente conhecida. Deve ser da noite que está boa para passear.
Não para ele. Ele tem aquele horror a puxá-lo e a fazê-lo apressar.
Ah! Lá está o carro – finalmente.
Agora mais calmo, porque se sente seguro, consegue até respirar pausadamente e, a pouco e pouco, o raciocínio surge um pouco mais lúcido enquanto arranca.
Que foi aquilo tudo? Aquela “fuga” foi do quê?
Não sei – não sabe. Foi instintiva e irresistível, isso sim!
Com calma apela para a paz do equilíbrio em si.
Olhando pelo vidro, vai abrandando o carro. Consegue sentir-se cada vez mais calmo ao olhar para a paisagem, que vai percorrendo.
E a luz dos candeeiros continua a iluminar tudo... parece até cada vez melhor.
Então, aos poucos, ele sente que esse enorme horror se pode ir transformando, como se fosse a transformação de um enorme pedregulho por algo que pode ser tão leve que consiga voar na brisa da noite, algo perfumado como pétalas de flores, algo que se eleve para… junto daquela estrela – além…
Ele descobre que as transformações são possíveis – todas – e com possibilidades infinitas.

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Stan Wisniewski
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Disse Albert Einstein: Se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor... Lembre-se. Se escolher o mundo ficará sem o amor, mas se escolher o amor com ele você conquistará o mundo !
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2008-06-26

Porquês sem resposta

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Como pássaros eles sobem de celas escuras e lúgubres para a terra seca e iluminada pelo sol.
Outros saem de grutas nas serras que ladeiam o vale.
Todos semicerram os olhos por causa da luz forte do sol.
Deve ser quase o meio do dia porque não se notam as sombras.
Só há arbustos e uma ou outra árvore.
A paisagem é deserta.
Mas o dia parece ser de festa.
Estão com ar de quem esperava por esta hora. Ansiosos, viram-se todos para o fundo do vale.
E, pois, lá vêm aqueles outros… forma-se, à medida que avançam, uma espécie de estrada meio prateada na planície bege de terra seca… e são muitos.
Uns trazem embrulhos que parecem farnel de comida e outros trazem roupas – frescas de Verão e limpíssimas.
Juntam-se todos, aos abraços e gritinhos de alegria.
Muitas mulheres choram e, oh!, tantos homens deixam cair lágrimas mesmo sem soltar um som.
O tempo é de alcançar a verdade – porque eles não chegaram a ser acusados de nada a não ser de estarem vivos e, a maioria, por trabalharem honestamente naquele sítio.
Tantos porquês sem resposta.
Mas há outros que foram levados para ali porque eram familiares próximos dos primeiros ou simplesmente porque eram de idade jovem e alguém os escolheu por esse interesse.
Porquê?
Só um poder divino o saberá na sua Infinita Sabedoria!
Agora estão livres e por isso é tempo de gozar essa liberdade.

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Imagem retirada da net
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Disse Paul Valéry: O problema do nosso tempo é que o futuro não é o que costumava ser !
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2008-06-25

Paralelo Inacabado VI

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Olhando em frente vê-se uma câmara, daquelas antigas, de filmar.
- E então?
- Então, estamos lá dentro!
- Explicação: é num museu… desses interactivos!
- Olha que não percebo bem. Por acaso o que sei é que a tal câmara está a filmar algo azul céu.
- Se calhar está apontada para lá, não?
- Pois não. Está dentro de um quarto (ou sala), sem visibilidade imediata para o céu. O que eu queria dizer é que é tudo azul – azul claro – pronto!
- Está bem. E depois?
- Depois, cada um de nós começa a ver cenas sucessivas – como um filme – da sua própria vida passada.
- Vão morrer. É isso?
- Ai, ai, ai…
- Desculpa, continua.
- E nalgumas cenas as pessoas perturbam-se e nós não podemos ajudar porque cada um só vê as suas “coisas”.
- Que tal dar carinho…
- Isso é evidente! Está uma onda de enorme carinho que nos envolve a todos e nos consola. Aliás, não temos palavras porque não sabemos do que se trata.
- Ora, sabes que às vezes as palavras são demais!

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Imagem retirada da net
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Disse William Blake : Aquilo que hoje está provado não foi outrora mais que imaginado !
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2008-06-24

Além do horizonte

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Tons suaves e peças de roupa espalhadas.
Paisagens mais ou menos agradáveis.
Muitas pessoas em muitos sítios diferentes – todas bem-dispostas e a gozar dias… digamos… de férias?
As cenas pareciam sucessivos anúncios com paisagens lindas.
Há uma mulher com ar sereno que procura a família.
Deambula e percorre todos os sítios que foram aparecendo anteriormente.
Passa-os como se fossem uma montagem fotográfica – como uma sobreposição da sua imagem nas outras imagens.
Ninguém a vê ou então ignoram-na completamente.
Finalmente pára numa das paisagens e fica a observar as pessoas daquela imagem, numa praia a estender-se quase sem fim.
Na areia estão pessoas que ela reconhece e, agora sim, estes também a conhecem e cumprimentam.
Conversa um pouco e vai embora agora com mais um casal ao seu lado, isto é, ela ao meio, o homem à esquerda e a outra mulher à direita.
Vão muito satisfeitos e comentam que é bom estarem outra vez juntos.
- Porque tens essa cara de admirada?
- Porque… eles vão a voar rente às águas, a caminho do horizonte.

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Fotograma de "What Dreams May Come" (Para Além do Horizonte)
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Disse Pablo Picasso : Tudo o que possamos imaginar é real !
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2008-06-23

Nem sonho nem pesadelo

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Uma cova funda que faz lembrar o interior de um vulcão que vi uma vez em filme. Tudo negro e íngreme, no entanto ainda se vê um patamar ou nesga de passagem que desce, desce…
Tudo cada vez mais escuro e, lá em baixo, em vez da massa ao rubro que se via no tal filme, está o chão duro da rocha e um pouco molhado – como se corresse ali um riacho.
Isso fez-me procurar para onde ia a água na expectativa de encontrar uma saída.
Nada. Nada de nada. O chão acabava já ali para recomeçar uma subida, de qualquer modo impossível, desse lado – só voltando pelo mesmo caminho.
Lá em cima, muito acima, estava a claridade do céu azul.
Parece que, afinal, somos um grupo e isso reconforta-me um pouco.
Nem sonho nem pesadelo.
Há uma chamada de nomes e aqueles que são referidos começam a aparecer e a sair de … humm… parecem celas com grades… e agora, vamos todos juntos, como num elevador, para uma nova plataforma que se formou – agorinha mesmo – com tanta luz e calor do sol que todos protegemos os olhos, já habituados ao negrume.
- Então e depois?
- Depois fomos todos, felizes, para novos postos de trabalho. Este já estava terminado!

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Fotograma do filme "What Dreams May Come" (Para Além do Horizonte)
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Disse Khalil Gibran : Quem vive nas trevas não consegue ser visto, nem vê nada!
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2008-06-22

Khalil Gibran # As Crianças

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E UMA mulher
que trazia um menino ao colo
disse:
- Fala-nos das Crianças.

E ele respondeu:

- Os vossos filhos
não são vossos filhos:
são filhos e filhas
do chamamento da própria Vida.

Vêm por vosso meio
mas não de vós;
e apesar de estarem convosco,
não vos pertencem.

Podeis dar-lhes o vosso amor;
mas não os vossos pensamentos:
porque eIes têm pensamentos próprios.

Podeis acolher os seus corpos;
mas não as suas aImas:
porque as suas aImas
habitam a casa de amanha
que não podeis visitar,
nem sequer em sonhos.

Podeis esforçar-vos por ser como eles;
mas não tenteis fazê-los como vós.
Porque a vida não vai para trás,
nem se detêm com o ontem.

Sois os arcos, e os vossos filhos
as setas vivas projectadas.

O Arqueiro vê o alvo no caminho do infinito,
e reteza-vos com o seu poder
para que as setas
possam voar depressa para longe.

Que a vossa tensão na mão do Arqueiro
seja de alegria.

Porque assim coma Ele gosta
da seta que voa,
também gosta do arco que fica.

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de Khalil Gibran
in “O Profeta”
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Disse Khalil Gibran : Somos irmãos gémeos, ó Noite, porque tu revelas o espaço e eu revelo a minha alma !
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2008-06-21

Palavras

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“Trabalho feito não cansa!”
- Lá isso é! O pior é quando o cansaço já se instalou e não se consegue trabalhar.
- Queres dizer, ficas no ponto zero, quanto mais atingir o ponto um?
- Ahhh! Exactamente, e não é de preguiça que falo. É de cansaço pesado. Pesado de sono não dormido.
- Também há cansaço por estar vivo…
- Pois, mas não é disso. No entanto algumas pessoas parecem estar simplesmente à espera que o tempo passe.
- Ou de morrer! Porque deixam de se sentir úteis e pensam que já não valem nada.
- O que não é verdade porque valem pelas memórias que têm e são capazes de transmitir. Não só falando delas e de suas vidas, mas com o exemplo que dão nas atitudes que hoje têm e até no que transmitem com o seu sorriso.
- Sim, conheci pessoas que não podiam falar e o seu sorriso, ou o seu olhar, era tão ou mais eloquente que a fala para muitos.
- Oh, há tantos que falam sem saber… falam, simplesmente.
- Outras vezes, também há palavras que são valiosas como o ouro. Há que saber escolhê-las.

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de Carlos Drummond de Andrade

no Museu da Língua Portuguesa
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Disse Madre Teresa de Calcutá: As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável !
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2008-06-20

Progresso contínuo

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Habituamo-nos a tudo. Tanto isso acontece que, talvez por defesa de entrar em sofrimento, nos habituamos ao que seja e, a partir daí, tomamos tudo como certo, devido, merecido; enfim, inevitável. É como se a esperança se diluísse alhures.
A esperança como que desaparece da nossa cabeça, nem assoma aos pensamentos que se enredam a tentar evitar o que nunca aconteceu.
Nesse vazio que se instala, ao nada de bom sequer desejar para si próprio, nasce um medo que se passa a respirar e tudo nos angustia.
Ao contrário, deveríamos confiar que a boa sorte pode surgir a cada dia que nasce, porque cada dia é uma nova hipótese de tudo mudar e ganhamos então, não o tal medo, mas uma confiança excelente em nós.
Porque temos tudo em nós mesmos e a esperança mantém-nos de pé contra os mais tristes ventos que nos possam abanar.
A esperança é o desejo de melhor e a fé a certeza de que tudo muda e evolui em progresso contínuo para a perfeição – porque, aconteça o que acontecer, nada detém essa marcha que existe – a nível cósmico.
Em tantos casos a realidade nem consegue aparecer, tais são as cortinas e véus que lhe interpomos, com os nossos pensamentos carregados de irrealidades e defensivas.
O bom senso e o equilíbrio andam juntos e aí os pensamentos conseguem descansar na realidade, geralmente mais fácil e acessível que a intricada teia que lhe tecemos.
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Joan Miró
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Disse Ruth Renkel : Não há razão para termos medo das sombras. Apenas indicam que em algum lugar próximo brilha a luz !
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2008-06-19

O primeiro portal

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A família que formamos é o nosso suporte, é o nosso descanso e bem-estar que retomamos ao fim do dia. Torna-se sinónimo de segurança e funciona como um escudo em relação ao mundo exterior.
Por isso, quando se desmorona por quebra de valores ou porque se divide pela doença, por vícios ou até pela morte, é um caos.
No nosso íntimo estabelece-se o desequilíbrio e o esforço de querer ultrapassar as dificuldades e conseguir voltar à normalidade agradável do que já foi.
Às vezes é o desmoronar do que construímos quando aparecem os problemas que provocam despesas de dinheiros que não temos.
Outras vezes é o desmoronar de valores morais quando nem sequer percebemos como se defraudaram tanto assim.
Somos, quase sempre, apanhados de surpresa pelo mal imprevisto e a defesa é sempre tentar remediar rodeando o problema, antes de o enfrentar.
Com lucidez ou instintivamente geramos sucessivas tentativas de solução, tentando a preservação do que, ou quem, nos é mais querido – porque a família é parte integrante de nós.
O núcleo familiar que constituímos e a que pertencemos, seja esposo(a) e filhos ou seja sozinhos com plantas, gato, cão ou aquário e sofá – é o nosso portal seguro e o nosso retomar de forças – como tal é defendido intimamente.
A família mais chegada é, ainda, o nosso primeiro portal com o mundo.

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Pablo Picasso
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Disse Jane Howard : Chamemos-lhe clã, ou rede, ou tribo, ou família: O que quer que lhe chamemos, onde quer que estejamos, precisamos de uma !
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2008-06-18

Água cristalina

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Fonte de água cristalina que deita a água ao pingo.
Está no meio do arvoredo primaveril e dá vontade de a beber só de olhar para ela, a transmitir tanta frescura.
A fonte é grande no seu desenho, toda branca, e nem se nota qualquer contraste com os sulcos que geralmente a água faz.
Não se parece com qualquer outra que me lembre porque nenhuma consegue manter-se tão branca e com água tão limpa e fresca.
Consegue estar rodeada de plantas e, no entanto, a sua brancura sobressai até a quem a veja de longe.
Cada gota parece um bálsamo - nem sei se do corpo se da mente. Deve ser impressão, mas das gotas que vão caindo ininterruptamente, parecem saltar não salpicos vulgares mas estrelinhas douradas e brilhantes de luz.
Acho que vou ficar aqui neste jardim o resto da tarde.
- O quê?! Olha que os portões vão fechar!
- Bem, então até qualquer dia! Para a próxima vou ver se chego mais cedo.

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Fotografia de Martin Waugh
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Disse Evaristo Eduardo de Miranda: Em hebraico, não existe a palavra água, no singular. Elas são sempre plural: águas, maim (mem-iud-mem), cuja pronúncia lembra, em português, a palavra mãe !
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2008-06-17

Parece simples

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Planícies sem fim, nada verdejantes, antes secas e agrestes.
Sente-se um sol abrasador e quando sopra o vento, sopra mesmo, levantando nuvens de poeira que quase cegam as pessoas.
Depois chega a noite com muita humidade e tudo ficaria nítido se não fosse a escuridão.
E muitas pessoas vivem por aqui – e não sei onde é este aqui – caminhando lentamente, ora sós, ora em grupo, ora cuidando de gado. Quando é este o caso, são centenas ou milhares de cabeças, para cuidar e guiar na lonjura da planície. Essas pessoas pareceriam errantes com a casa às costas. Contudo, na realidade, de casa não há nada à vista.
Se estão perdidos não se nota porque sabem muito bem encontrar água e árvores de fruta ou quintas – de muros muito altos e enormes, a perder de vista.
- Não percebo nada disso!
- Nem eu! Só sei que têm a terra e o céu como horizonte nas suas vidas. O resto não existe e, de vez em quando, encontram alguém agradável com quem falar.
- São modos de vida sem ligações materiais como as nossas, isto é, não têm casas nem repartições de finanças, nem gás ou luz, ou roupas, ou sapatos que nem precisam – excepto tipo botas – e só o necessário para ir mudando…
- Parece simples, mas não é! É uma vida árdua na conservação de si e dos seus, mantendo um certo tipo de civilização, tanto ligada à realidade concreta dia após dia, como ligada a uma moral bem defendida no seu essencial. São assim – tão diferentes e interligados com a natureza, como se esta fosse uma irmã!

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Imagem retirada da net
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Disse Goethe : A natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas folhas !
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2008-06-16

Existência

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À porta está uma sombra escura que pede autorização para entrar.
Vem de longe, não de distância geográfica mas de distância temporal. De há muitos milénios…
Diz que chegou a ocasião, nem esperada nem desejada, mas necessária para alteração do curso da sua existência.
Explica algo de si. O suficiente para justificar o pretender seguir um novo caminho.
E vai embora, desta vez com novos guias, para a tal nova empreitada de si.
A casa ganha luz nova, em conformidade com o dia que nasce e ela percebe novos ensinamentos.
Novos trilhos, novo desbravar de caminho ou como diz o poeta “faz-se o caminho ao andar”.
E vêem-se episódios do passado e do presente que provocam estranheza e apreensão mas também, e se calhar o mais importante, provocam novo entendimento das coisas e da vida.
Ou, melhor será dizer, da existência.
- Afinal, o que é o existir?
- Ora, que pergunta… Escolhe: existir será estar ou será seguir?
Olha mais além e diz-me se vês aquela luz, como um holofote, ali, na linha do horizonte entre a terra, o mar e o céu…
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Máscara azteca da Morte e Reencarnação
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Disse Goethe: O mais importante da vida não é saberes onde estás, mas sim para onde vais !
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2008-06-15

Khalil Gibran # O Casamento

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ALMITRA falou de novo e disse:
- Mestre, que pensais do Casamento?

Ele respondeu, dizendo:

- Nascestes juntos,
juntos ficareis para sempre.

Ficareis juntos
quando as asas brancas da morte
dispersarem os vossos dias.

Sim. Ficareis juntos
até na silenciosa memória de Deus.

Mas que haja espaço na vossa comunhão;
e que os ventos do céu
dancem no meio de vós.

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um empecilho:
seja antes um mar vivo
entre as praias das vossas almas.

Enchei cada um o copo do outro,
mas não bebais por um só copo.

Partilhai o pão;
mas não comais do mesmo bocado.

Cantai e dançai juntos, sede alegres;
mas permaneça cada um sozinho,
como estão sozinhas as cordas do alaúde
enquanto nelas vibra a mesma harmonia.

Dai os vossos corações;
mas não a guardar um ao outro.

Porque só a mão da Vida
pode conter os vossos corações.

Mantende-vos juntos,
mas nunca demasiado próximos:
porque os pilares do templo
elevam-se, distanciados,
e o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.

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in "O Profeta"
de Khalil Gibran
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Disse Khalil Gibran: O vosso corpo é a harpa da vossa alma !
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Outro texto de Khalil Gibran
Outro texto de Khalil Gibran
Outro texto de Khalil Gibran
Outro texto de Khalil Gibran
Outro texto de Khalil Gibran
Outro texto de Khalil Gibran
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2008-06-14

Alucinações

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Azul céu e parece que ele está mesmo no céu.
Como se fosse seda espalhada, formando os refegos habituais quando está assim “a metro”.
O azul é claro, com matizes esbranquiçados – tal é a luz que o ilumina.
Vamos passando assim, sem saber se caminhamos ou voamos por dentro desse azul – como se fosse um túnel.
Mas há outros túneis, semelhantes, de outras cores.
E vamos passando por esses também.
- E depois?
- Olha, nem sei que diga. Porque depois é como se adormecesse profundamente.
- E não foi o que aconteceu?
- Se calhar foi porque acordei no sofá, meio atordoada… Era tão lindo que deu pena ter acabado.
- Acabado? Eu acho que só agora começou.
- Mas, começou o quê?
- As tuas alucinações. Vamos mas é tomar os remédios e a horas…
- Ohh… acho que prefiro não tomar os remédios. Sinto-me tão bem.
- Toma lá… agora são estes. Não são para alucinações – estava a brincar. Mas são para tratamento teu… de mais ninguém.
- Queres dizer que não há mais ninguém como eu?
- Não.

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Van Gogh
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Disse Carlos Drummond de Andrade : Nossas alucinações são alegorias de nossa realidade !
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2008-06-13

A confiança

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Confiança – um elo que se estabelece entre as pessoas. Às vezes pouco merecida mas, na maioria dos casos, é uma correspondência de fraternidade muito forte.
A confiança permite ultrapassar o isolamento e partilhar tristezas, dúvidas e alegrias.
Na troca de ideias, entre uns e outros, torna-se mais fácil chegar a conclusões úteis.
Também acontece que essas conclusões são apenas do próprio que só as confirmou ao discutir com outros.
Por vezes as dúvidas apenas existem pela falta de confronto.
Após a sua análise surge o clareio da certeza (a possível).
Algumas vezes, a confiança – a certeza – as relações interpessoais são como imagens de um caleidoscópio.
São imagens que aparecem entrecortadas de luz, cor e segmentos que as transformam em constantes figuras geométricas.
Com elas estão também símbolos, com significados ainda desconhecidos ou sem significado aparente...
E as luzes conseguem sobrepor-se com mestria em corredores de luz verde e rosa, azul, branco e amarelo.
Tudo tão belo e lindo – às vezes parece um mundo de flores e pétalas, outras vezes um mundo de recordações diferentes...
O seu brilho não deixa enganar – não são daqui…
São de lá longe, onde o finito se cruza com o infinito.
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Guilherme Tell
Imagem retirada da net
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Disse Lao-Tsé: Aquele que não tem confiança nos outros, não lhes pode ganhar a confiança !
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2008-06-12

O caminho

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Uma praia à noite. Barcos e barcos de pescadores, com as redes de pesca, estão na praia – na areia – parados.
Vamos caminhando e tentando não tropeçar nos ganchos e outras coisas que ficaram na areia.
A areia, à luz do luar, está cinzenta. Provoca algum receio, não sei porquê.
Talvez pelo desamparo ou estranheza que se sente.
Do luar fica uma luz branca e redonda ali à frente, na areia mais além...
Já íamos nessa direcção porque é a única luminosidade que nos pode guiar.
A luz, ao passarmos por baixo dela, parece deitar pingos de chuva – mas são azuis… E vão… uhhmm… caindo sobre as nossas cabeças.
Levantando o olhar para o centro da luz, parece que somos aspirados por ela – como se nos elevassem da areia.
Parece que voamos, mas não. Afinal, continuamos na praia. Foi tudo ilusão…
Vamos seguir o nosso caminho até encontrar alguém ou algum sítio onde nos deixem telefonar para casa e dizer onde estamos – porque não sabemos como chegámos até aqui (vendo bem, nem sabemos onde é o aqui).
Um de nós volta agora da tal luz que nos faz “voar”.
- Afinal estamos perto de casa. É já ali a estrada que vai para lá.

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Lynn Parotti
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Disse Séneca : Não há ventos propícios para quem não sabe que porto almeja !
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2008-06-11

As vicissitudes da vida

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Hoje lembrei-me duma composição conhecida pelo nome de “O Voo do Moscardo” e à qual associo as vicissitudes da vida.
Melhoramos – às vezes… talvez, outras… talvez não.
E tudo volta ao mesmo, numa espécie de círculo, ou de círculo em círculo, ou por círculos concêntricos.
- A vida, para mim, é uma linha recta em tons de verde.
- Em tons de verde? Ohh! Deixa-me adivinhar! Porque ligada à natureza! Certo?
- Pois! Eu continuo a achar os tais círculos relacionados.
- Mas isso provoca um efeito de remoinho.
- Pois então os círculos ora estão com o centro para baixo se nos deixamos deprimir, ora para cima se nos harmonizarmos com tudo na vida. Tentando desvalorizar o desagradável e manter a paciência que nos ajuda a pensar com optimismo e evitar o desgaste excessivo das nossas energias.
- Sobretudo por aquilo que nos desequilibra.
- Tudo tem uma razão de ser e, se não a percebemos, devemos usar a lucidez de esperar com humildade o esclarecimento e usar as experiências passadas como estruturas para suportar males maiores.
- Dizem que nada há que dure sempre… nem mal que perdure…

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Imagem de "O Feiticeiro de Oz", retirada da net
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Diz a sabedoria popular : Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe !
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2008-06-10

Paralelo inacabado V

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Verde safira, tão suave – parece seda.
Dirigimo-nos para lá porque essa clareza atraía-nos. Era tão bela.
Conforme nos aproximávamos ia ficando cada vez mais branca.
E passámos a porta, ou portão, porque era mesmo uma passagem.
Lá, do outro lado, estava uma cidade inteirinha. Casas, ruas, jardins, pontes…
Mas não se viam carros, nem quaisquer outros meios de transporte.
Pessoas passavam por nós com alguma ligeireza e nós fomos andando. Em frente, que é o que se faz quando não se conhece o caminho. Na dúvida, segue-se em frente...
E fomos dar ao jardim que tínhamos vislumbrado do portão.
Era lindo. Enorme e cheio de luz do sol. O que não é muito habitual porque a copa das árvores, muitas vezes encobre o sol.
Agora caem pétalas de flores por cima de todos como se a abóbada as distribuísse assim – por nada.
Alguém nos vem interpelar e, a seguir, conduz-nos à saída.
Porquê?
Então, porque não podíamos estar ali.
Ainda não era tempo!

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Jardim de Luxembourg. Fotografia de Arnaud Frich
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Disse Henri Amiel: O tempo nada mais é do que a distância entre as nossas lembranças !
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2008-06-09

Mais lá que cá

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Ela olha para o céu e já lá está.
- Quê?
- Foi o que ela disse. Olhava para o céu e ficava lá.
- Mas que quer isso dizer?
-Não sei bem. Acho que ficava com a imagem do céu em si mesma, como se ficasse pendurada no ar com aspecto de céu.
- Hum! E depois?
- Depois ficava feliz e em paz – nada enervada e bem-disposta.
- Só assim… no céu…
- Acho que percebi! Pode ser com qualquer coisa da natureza!
- Por exemplo?
- Por exemplo, uma árvore. Olha-a e fica como ela; ou um rio, e fica como ele.
- Presa ali?
- Que ideia! Exactamente ao contrário. Fica livre de preocupações, de tudo!
Funciona como um tratamento de limpeza, de purificação mental e física. Porque até as dores e mal-estares do corpo podem passar ou, pelo menos, diminuir.
- Só assim?
- Bem, ela tem fé, ou seja, é fiel a Deus. Confia nele. Ela é assim mais lá que cá…
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Salvador Dali
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Disse Albert Einstein: O mais incompreensível do mundo é que ele seja compreensível !
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2008-06-08

Khalil Gibran # O Amor

ENTÃO Almitra disse:
-Fala-nos do Amor.

Ele levantou a cabeça
e olhou o povo;
um silêncio caiu sobre eles.
E disse com voz forte:

- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e escarpados.

E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz
poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.

Porque assim como o vosso amor vos coroa,
também deve crucificar-vos.
E sendo causa do crescimento,
deve cuidar também da poda.

E assim como se eleva à vossa altura
e acaricia os ramos mais tenros
que tremem ao sol,
também penetrará ate às raízes
sacudindo o seu apego a terra.

Como braçadas de trigo vos leva.

Malha-vos até ficardes nus.

Passa-vos pelo crivo
para vos livrar do palhiço.

Mói-vos até à brancura.

Amassa-vos até ficardes maleáveis.
Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser
o pão sagrado no festim de Deus.

Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer
os segredos do vosso coração,
e por este conhecimento
vos tornardes um bocado
do coração da Vida.

Mas, se no vosso medo,
buscais apenas a paz do amor,
o prazer do amor,
então mais vale cobrir a nudez
e sair da eira do amor,
a caminho do mundo sem estações,
onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,
e chorar,
mas nunca todas as vossas lágrimas.

O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.

O amor não possui
nem quer ser possuído.

Porque o amor
basta ao amor.

Quando amardes, não digais:
-Deus está no meu coração,
mas antes:
- Eu estou no coração de Deus.

E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos julgar dignos,
marcará ele o vosso curso.

O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.

Mas se amardes, e tiverdes desejos,
deverão ser estes:

Fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência
do amor, e sangrar
de bom grado e alegremente.

Acordar de manhã com um coração alado
e agradecer outro dia de amor.

Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.

Voltar a casa ao crepúsculo
com gratidão;
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado
e um canto de louvor na boca.
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.in "O Profeta"
.de Khalil Gibran
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Disse Khalil Gibran: Quem sabe se o que parece omitido hoje, não espera apenas pelo amanhã !
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Outro texto de Khalil Gibran
Outro texto de Khalil Gibran
Outro texto de Khalil Gibran
Outro texto de Khalil Gibran
Outro texto de Khalil Gibran
Outro texto de Khalil Gibran
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2008-06-07

Perdoar

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Perdão é progresso. Progresso e evolução.
- De quê?
- Da própria pessoa porque não se deixa melindrar. Porque não fica a pensar nisso. Porque quem faz mal ou errado é porque não sabe fazer melhor. Não sabe ser melhor que isso – o tão pouco que é.
Quando se vêem as atitudes relaxadas de quem trabalha mal e vai prejudicando outros. E outros mais que, às vezes, ficam tão mal com as consequências dessa incompetência.
Outras vezes, os vandalismos levam tudo o que se amealhou durante anos e que a idade e circunstâncias actuais não deixam possibilidade de voltar a conseguir. Outras vezes ainda, são roubos para pagar vícios, com ou sem ataques às pessoas.
Carros batidos e fuga de quem bateu – às vezes com aspecto de “doutores”.
Enfim, perdoar não é fácil. Mas é necessário para poder continuar a viver sem olhar para trás.
Viver simplesmente e o melhor que se pode.
Perdoar sempre até porque o maior problema é do outro.
- Porquê?
- Porque a sua evolução pessoal e social é tão inferior.

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Fractal de Lenora Clark
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Disse Mahatma Gandhi: O fraco jamais perdoa: o perdão é uma das características do forte !
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2008-06-06

Livre-arbítrio

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Fotografias da memória. Porque a memória capta tudo. Absolutamente tudo.
Depois mostra-nos imagens por afinidade com o que queremos pensar ou reflectir.
Ou então, mostra-nos imagens porque quer sugerir-nos qualquer coisa e essa “qualquer coisa” nem sempre é agradável – às vezes, pelo contrário.
Cabe-nos aceitar essas imagens ou ideias. Ou rejeitá-las. Ou ignorá-las.
Seja qual for a nossa opção, é esse comportamento – repetido q.b. – que vai transformar o nosso modo de ver as coisas.
Por exemplo, se aceitarmos as possibilidades depressivas, ganhamos em pessimismo de tristeza.
Se aceitarmos as ideias esperançosas e tolerantes, sentimo-nos optimistas e risonhos mesmo nas adversidades.
É o princípio da liberdade de escolha ou o chamado livre-arbítrio.
Esse livre-arbítrio só se consolida com a persistência da nossa vontade em repetir o mesmo tipo de pensamentos, palavras e atitudes.
E chega agora a tal frase “somos o que pensamos”.
Isso é assustador e maravilhoso ao mesmo tempo, pela responsabilidade que dá ao indivíduo sobre a sua felicidade.
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Salvador Dali
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Disse Edgar Cayce: Nós somos aquilo que pensamos !
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2008-06-05

Campo mental

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Cabeça perdida. Cabeça louca. Desvairada. Alucinada.
Que fazer quando não há concentração?
Quando queremos prestar atenção e só observamos por um instante.
A seguir não sabemos que é feito das observações e entretanto continuam a falar para nós.
Às vezes à espera de uma resposta.
Que fazer quando queremos pensar e reflectir mas, no instante (porque é só um instante) seguinte, estamos com as ideias completamente alheias à situação.
Que fazer quando a cabeça não dá mais?
E se insistimos, começamos a ter dores na fronte, em todo o lado sentimos pulsar aquele peso do cansaço… a dor latente…
Que fazer? Talvez dormir e descansar; pode ser só cansaço.
E a cabeça, afinal, está cheia – a abarrotar – de ideias e pensamentos.
Não param, parecem estar numa corrida louca para quê?
- Não sei!
- Respira pausadamente. Pensa em flores, no céu azul, no mar até ao horizonte. Amplia o campo mental ao mesmo tempo que, a respirar melhor, também o oxigenas. Melhora bastante!
- Amanhã talvez. Agora… vou dormir!
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Imagem retirada da net
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Disse Mahatma Gandhi: Vive como se fosses morrer amanhã. Aprende como se fosses viver para sempre !
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2008-06-04

Gostar de si

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Parar, respirar pausadamente e recomeçar o passo, de cabeça erguida.
É assim com toda a gente. Há os momentos (meses, anos…) difíceis e depois o ganhar de forças para seguir e continuar os projectos interrompidos, na medida das possibilidades de cada um.
Às vezes, já bastante alterados.
- É com todos assim?
- É, e por vezes até sobrevém uma doença, que pode acrescentar o tolher dos movimentos ou dificuldades financeiras, que advêm de pagar despesas pela saúde.
- Às vezes parece que o desespero não cessa… Até a campainha da porta faz tremer por dentro – que mais será? – é o que assoma logo à mente.
- Sim, a esperança é o que sempre resta se a soubermos cultivar. Senão até essa se afasta. A esperança é o que se tem, também, para incentivar o recomeçar das forças.
- Pois é. A mim, o que me sustenta é poder olhar para trás e não me envergonhar de mim. Agir em verdade comigo foi sempre a linha de conduta que segui.
- É, nos piores momentos gostar, pelo menos, de si mesmo e saber que naqueles momentos se tomaram as melhores atitudes.
- E outros dias hão-de vir… um dia.

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Imagem retirada da net
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Disse Louise Hay: No esforço para sermos amados pelos outros perdemos de vista o incrível milagre que cada um de nós é como centelha divina e esplêndida expressão da vida !
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2008-06-03

Coisas simples

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Ele perdeu os documentos num daqueles dias que achamos melhor esquecer e em que a noite talvez nos dê um merecido descanso.
Então resolveu pôr-se a caminho – retomando tudo o que antes fizera e ainda com os ditos documentos na mão.
E meteu um pouco de papel higiénico no bolso.
- Para quê? Estava aflito?
- Nada disso. Para os ir rasgando e espalhando pelo chão, assim conforme a direcção para onde voavam ele ia confirmar se os documentos teriam voado para ali.
- E encontrou-os?
- Sim, já tarde bem tardia, quase a escurecer. Foi um dia longo para ele.
- Ufff! Há tantos dias assim que até pergunto para que me levantei… Se calhar para dar mais valor aos outros, melhorezinhos…
- Pois, estes dias assim sacodem e tiram-nos da inércia e da insatisfação instalada. Damos então valor às pequenas coisas e à simplicidade dos tempos tranquilos.
- É uma questão de auto-educação, não é? Saber avaliar as coisas simples que nos acontecem e que nos rodeiam…
- Teremos que fazer-nos simples para compreendermos a grande importância de algumas coisas na nossa vida.

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Imagem de Pierre Bonnard
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Disse J. R. R. Tolkien: Onde não falta vontade existe sempre um caminho !
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2008-06-02

Deserto

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De um suplício é libertado. Para outro é levado em que é içado e afundado muita, muita vez, num poço fundo.
Está completamente gelado. Nem sabe se estará vivo ou morto.
Quando percebe que não morreu chega a pensar se a morte não poderá ser doce – mais doce que aquilo que sente.
Mas não – não deseja a morte. Apenas a comparou.
Não se deve morrer antes do prazo marcado pelo Divino. Só quando acaba o tempo designado e se passa por baixo do arco da vida. Só nesse instante é que se pode morrer. Antes é suicídio, é brincar mal com a vida.
E ele já sofreu muito para querer acabar esta vida sem passar tudo o que tem que passar para alcançar o progresso de si.
Chega o mesmo homem de sempre, mostra-lhe um camelo e ele lá consegue arrastar-se para cima do animal.
Animal que o leva até ao fim de um deserto, à beira de um precipício.
Ele consegue abrir os olhos e ver montanhas muito ao longe, cheias de neve muito brilhante e um sol que as deveria derreter.
Mas não. O sol forma uma espécie de cortina de raios dourados que baixam até à neve.
O camelo leva-o, como que voando sobre o precipício, e deixa-o lá.
Os raios de sol agora caem sobre ele. E agora sim, está a aquecer e a sentir-se melhor.
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Fractal de Lenora Clark
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Disse Santo Agostinho : Gosto da vida porque gosto de mim mesmo e compreendo a honra que me foi feita quando vim ao mundo para aí ter conhecimento de toda a luz e de toda a grande ciência humana !
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2008-06-01

Khalil Gibran - Nota biográfica; A Nova Fronteira

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KHALIL GIBRAN

Khalil Gibran nasceu a 6 de Dezembro de 1883 em Becharre no Líbano, duma antiga família cristã. A mãe era filha dum sacerdote maronita, rito que deriva directamente da Igreja de Antioquia. Becharre estará sempre presente no espírito de Gibran. Erguendo-se num planalto, à beira das falésias de Wadi Quadisha (que significa vale santo ou sagrado), Becharre acolhia-se à sombra da floresta dos cedros sagrados do Líbano. Em 1894, acompanhando a mãe, emigra para Boston mas, em 1897, regressa ao Líbano para prosseguir os estudos na Escola da Sabedoria de Beirute. Em 1901 visita a Grécia, a Itália, a Espanha e depois instala-se em Paris, para estudar pintura. Nessa época escreve Os Espíritos Rebeldes, livro que viria a ser queimado numa praça pública de Beirute, por ordem das autoridades turcas e condenado como herético pelo bispo maronita.*
Em 1903 Gibran é chamado aos Estados Unidos da América para assistir à mãe moribunda. Permanece em Boston, onde se dedica especialmente à pintura. Em 1908 regressa a Paris e trabalha na Academia Julian e na Escola de Belas Artes, convivendo com Rodin, Debussy, Maeterlinck, Edmond Rostand e outras figuras do mundo das artes. Em 1910 instala-se definitivamente em Nova Iorque e consagra o seu tempo à pintura e à poesia. Morre em Nova Iorque, aos 47 anos de idade, a 10 de Abril de 1931. O seu corpo, levado para o Líbano, repousa na cripta do Mosteiro de Mar Sarkis, em Becharre.
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* Para se compreender melhor estas posições das autoridades políticas e religiosas é útil fazer-se uma breve resenha histórica do Líbano. A Turquia foi uma das nações mais poderosas do mundo. Dominava todo o mundo árabe, o norte de África e parte da Europa. O Sultão era o dono do império e concedia ao exército um terço dos despojos de guerra. Esta prática manteve bastante vivo o sistema feudal no Império Turco até porque os impostos eram cobrados por agentes que apresentavam propostas ao Sultão em troca do privilégio da cobrança em locais determinados. Este sistema fez com que o mundo árabe vivesse em permanente rebelião contra o Império Turco. A Síria (que incluía as montanhas do Líbano) foi integrada no Império em 1517. No entanto, as montanhas do Líbano eram quase inacessíveis ao exército turco pelo que os habitantes puderam sempre manter a sua própria cultura ao mesmo tempo que mantinham sempre vivo o espírito de independência. Em 1860 eclodiu mais uma guerra civil. A Inglaterra enviou para o local uma armada e a França um exército de 6.000 homens. Uma comissão composta por representantes da França, Inglaterra, Rússia e Áustria reuniu-se com o primeiro ministro turco tendo então sido criada uma área autónoma que não incluía as planícies de Bekka, nem as cidades costeiras, nem mesmo Beirute. Assim, todas as pessoas que chegavam aos Estados Unidos vindas das costas orientais do Mediterrâneo eram classificadas como naturais da Síria. Mesmo após a Primeira Guerra Mundial (em que a Turquia, apoiante da Alemanha, foi expulsa e a França recebeu um mandato da Liga das Nações sobre a Síria e o Líbano), as pessoas que chegavam aos Estados Unidos eram classificadas como naturais da Síria. O domínio francês manteve-se até 1941, ano em que foi reconhecida a independência do Líbano. Por tudo isto, fácil se torna compreender a existência de dois Gibran. Um: o místico, o poeta, o pregador da paz; o outro: o herético, o panfletário, o revolucionário. O homem que, sendo libanês, era também sírio.O homem que escrevia em inglês e árabe mas não vertia os seus textos de uma língua na outra. O homem cujos textos são tantas vezes citados sem indicação de origem e tantas vezes traduzidos e editados sem indicação precisa do ano de produção até porque alguns foram originalmente um artigo de jornal ou uma carta a um amigo. O mais claro exemplo é a célebre frase atribuída a John F. Kennedy "não pergunteis o que pode o vosso país fazer por vós mas perguntai o que podeis fazer pelo vosso país". Este conceito é explicitado por Gibran num seu artigo (A Nova Fronteira) em que incita o seu povo a lutar pelos seus direitos. O Profeta, que está na lista dos livros mais vendidos em todo o mundo há mais de 50 anos, é a mais conhecida obra de Gibran; no entanto As Asas Quebradas, um seu romance em árabe, está ainda há mais tempo na lista dos best-sellers internacionais.
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A Nova Fronteira

por Khalil Gibran

..Há duas ideias que constituem um desafio no Médio Oriente presentemente* : antigas e novas.
..As ideias antigas desaparecerão porque estão fracas e gastas.
..Há no Médio Oriente um despertar que desafia o torpor. Este despertar dominará porque o sol é o seu líder e o amanhecer o seu exército.
..Nos campos do Médio Oriente, que têm sido um imenso cemitério, ergue-se a mocidade da Primavera que pede aos ocupantes dos sepulcros que se levantem e marchem em direcção às novas fronteiras.
..Quando a Primavera entoar o seu hino os mortos do Inverno erguer-se-ão, largarão as mortalhas e avançarão.
..Há no horizonte do Médio Oriente um novo despertar; aumenta e expande-se; estende-se e submerge todas as almas sensíveis, inteligentes; penetra e ganha a simpatia de corações nobres.
..Presentemente, o Médio Oriente tem dois senhores. Um decide, ordena, é obedecido; mas está à beira da morte.
..Mas o outro está silencioso na sua concordância com a lei e a ordem, esperando calmamente a justiça; é um gigante poderoso que conhece a sua própria força, confiante na sua existência e crente no seu destino.
..Presentemente, no Médio Oriente, há dois homens: um do passado e outro do futuro. Qual deles sois vós? Aproximai-vos; deixai que olhe para vós e deixai que me certifique, pelo vosso aspecto e pela vossa conduta, se sois um daqueles que se aproxima da luz e entra na escuridão.
..Vinde e dizei-me quem e o que sois.
..Sois um político, que pergunta o que o vosso país pode fazer por vós ou um zeloso, que pergunta o que podeis fazer pelo vosso país?
..Se sois o primeiro, então sois um parasita; se sois o segundo, então sois um oásis num deserto.
..Sois um mercador que se serve da necessidade da sociedade para as necessidades da vida, para o monopólio e o lucro exorbitante? Ou um homem sincero, trabalhador e diligente que facilita e partilha com o tecelão e o agricultor? Cobrais um preço razoável como intermediário entre a provisão e a procura?
..Se sois o primeiro, então sois um criminoso quer vivais num palácio ou numa prisão. Se sois o segundo, então sois um homem caridoso quer sejais agradecido ou denunciado pelo povo.
..Sois um chefe religioso, tecendo um manto para o corpo da ignorância do povo, talhando uma coroa da simplicidade dos seus corações, fingindo odiar o demónio apenas para viverdes do seu rendimento?
..Ou sois um homem devoto e piedoso que vê na piedade do indivíduo o alicerce para uma nação progressista, e que consegue ver através de uma busca nas profundezas da sua própria alma uma escada para a alma eterna que dirige o mundo?
..Se sois o primeiro, então sois um herege, um descrente de Deus mesmo que jejueis de dia e oreis de noite.
..Se sois o segundo, então sois uma violeta no jardim da verdade mesmo que a fragrância se perca nas narinas da Humanidade ou o aroma se erga e penetre no ar rarefeito onde a fragrância das flores é preservada.
..Sois um jornalista que vende a ideia e o princípio no mercado de escravos, que vive da miséria do povo como um busardo que pousa apenas numa carcaça putrefacta?
..Ou sois um professor no estrado da cidade ganhando experiência da vida e apresentando-a às pessoas como sermões que aprendestes?
..Se sois o primeiro, então sois uma chaga e uma úlcera. Se sois o segundo, então sois um bálsamo e um remédio.
..Sois um governante que se rebaixa perante aqueles que o nomearam e rebaixa aqueles que deve governar, que nunca levanta uma mão a não ser que seja para meter em bolsos e que não dá um passo a não ser que seja por avidez?
..Ou sois o servo fiel que serve apenas o bem-estar do povo?
..Se sois o primeiro, então sois como um joio na eira das nações; e se sois o segundo, então sois uma bênção para os celeiros.
..Sois um marido que permite a si mesmo aquilo que proíbe à mulher, vivendo à vontade com a chave da prisão nas suas botas, saciando-se com a comida favorita, enquanto ela se senta, sozinha, em frente de um prato vazio.
..Ou sois um companheiro, que não toma nenhuma providência a não ser de mãos dadas, que não faz nada a não ser que ela dê os seus pensamentos e opiniões, e partilha com ela a felicidade e o sucesso?
..Se sois o primeiro, então sois um sobrevivente de uma tribo que, embora se vista com peles de animais, desapareceu muito antes de abandonar as cavernas; e se sois o segundo, então sois o líder numa nação que se move na aurora em direcção à luz da justiça e da sabedoria.
..Sois um escritor minucioso cheio de admiração de si mesmo, mantendo a cabeça no vale de um passado árido, onde os séculos se despojaram do resto das vestes e ideias inúteis?
..Ou sois um pensador lúcido que examina o que é bom e útil para a sociedade e passa a vida a construir o que é útil e a destruir o que é nocivo?
..Se sois o primeiro, então sois fraco e estúpido e se sois o segundo, então sois pão para os famintos e água para os sequiosos.
..Sois um poeta, que toca tamborim nas portas dos emires, ou que atira as flores durante as bodas e caminha em préstitos com uma esponja cheia de água quente na boca, uma esponja que será comprimida pela língua e pelos lábios assim que chegar ao cemitério?
..Ou tendes um dom que Deus colocou nas vossas mãos para tocarem melodias celestiais que arrastam os nossos corações para a beleza na vida?
..Se sois o primeiro, então sois um impostor que suscita nos nossos corações o que é contrário àquilo que tendes em mente.
..Se sois o segundo, então sois amor nos nossos corações e uma visão nos nossos espíritos.
..No Médio Oriente há duas procissões: Uma procissão que é formada por pessoas idosas que caminham de costas arqueadas, apoiadas por bengalas dobradas; estão ofegantes embora desçam pela encosta abaixo.
A outra é a procissão dos jovens, que correm como se tivessem asas nos pés, e jubilosos como se tivessem cordas musicais nas gargantas, transpondo obstáculos como se houvesse ímanes a puxá-los pela encosta acima e magia a deleitar os seus corações.
..Quem sois vós e em que procissão seguis?
..Perguntai a vós mesmos e meditai na quietude da noite; tentai saber se sois um escravo do passado ou um homem livre para o amanhã.
..Digo-vos que os filhos do passado caminham num funeral da era que criaram para eles próprios. Puxam uma corda podre que pode rebentar em breve e fazê-los cair num abismo esquecido. Digo que vivem em casas com alicerces fracos; quando a tempestade soprar - e está prestas a soprar - as casas cairão sobre as suas cabeças e tornar-se-ão as suas sepulturas. Digo que todos os pensamentos, frases, discussões, composições, livros e trabalho não são mais do que correntes que os arrastam, porque são demasiado fracos para puxar o peso.
..Mas os filhos de amanhã são chamados pela vida, e seguem-na com passos firmes e cabeças erguidas, eles são a aurora de novas fronteiras, nenhum fumo toldará os seus olhos e nenhum tinido de correntes abafará as suas vozes. São poucos, mas a diferença é como a de um grão de trigo e uma meda de feno. Ninguém os conhece, mas ele conhecem-se uns aos outros. São como os cumes, que podem ver-se e ouvir-se – não como cavernas que não podem ouvir nem ver. Eles são a semente deitada à terra pela mão de Deus, rasgando a vagem e agitando as folhas novas na face do sol. Transformar-se-á numa árvore imponente, com a raiz no coração da terra e os ramos erguidos para o céu.
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* Este "presentemente" reporta-se aos finais do séc. XIX e princípios do XX e
Gibran não viveu o tempo suficiente para assistir à concretização do seu sonho, dum Líbano independente
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Disse Khalil Gibran: As vossas almas estão famintas e pão do saber é mais abundante do que as pedras dos vales, mas vós não comeis !
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