Viver
29 de setembro de 2006
Um ramo de árvore partido. Deixou um lenho grande e bem visível até ao longe.
Mas ao mesmo tempo outros ramos, pequenos e novos, renascem rápido em direcção ao céu, à luz e ao calor do sol.
Com o tempo, o lenho cicatriza e outros ramos pequenos o encobrem dos olhares curiosos.
Uma criança fala com esta árvore como se fosse um amigo da mesma idade.
Traz para junto dela os brinquedos, conta-lhe as histórias que inventa e confia-lhe a sua vida agitada, apesar de ser criança pequena.
Viver, novo ou idoso, é sempre uma experiência, um esforço diário. Tentativas de ir mais além de si mesmo.
Uma concorrência e competição consigo próprio, antes mesmo de competir com outros.
Conseguir mostrar essa criança de nós. Essa infantilidade de se dar a tudo o que a rodeia e que gosta.
Essa capacidade de entregar os brinquedos que gosta para partilhar com outros.
Em cada um de nós há seguramente um modo de viver mais livre, mais cordial e mais feliz com os outros. Começando pelos da própria casa, a família mais chegada. Pelos amigos e vizinhos.
Pelos colegas de profissão. Pelos desconhecidos.
À nossa volta começa a florir uma nova consciência e ser. Uma nova integração no mundo que nos rodeia. Acima de tudo, no mundo a que nos damos com toda a nossa integridade.
Faculdade que permite até estar nesse mundo, na medida da força da nossa presença.
A árvore vai crescendo. A criança vai passando por ela e evoluindo também.
A diferença é que ela não é esquecida e quer, até, lembrar-se para sempre da sua infância feliz.
Porque a felicidade é para ser recordada.
Na velhice quando já tudo é rotina e o corpo pouco se mexe, são as recordações felizes que alimentam o coração.
É preciso lembrar sempre a felicidade.
E, sobretudo, não a deixar passar despercebida.
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