Sentir-se vivo
26 de abril de 2007
Um homem ainda novo, mas de aspecto envelhecido para a idade, está numa mesa de café a escrever num caderninho.
Já foi muito na vida, já perdeu tudo, foi alcoólico e, hoje, está mais ou menos equilibrado e mais ou menos pobre.
Tempo não lhe falta, apenas lhe faz falta, isso sim, o trabalho.
Cabelos brancos a aparecerem e já não serve para o trabalhar porque, pelo mesmo ordenado, há mais jovens e mais bem parecidos.
Resta-lhe o tempo do café e um vício que a saúde lhe permite: o escrever.
Escreve sobre tudo e sobre todos.
Agora, que parece preparar-se para cair um aguaceiro, retiram as mesas do café e ele ficou na mesma, cá fora, tentando ainda empoleirar-se num murete.
Conseguiu e lá tira do bolso o caderninho mais a esferográfica, para recomeçar a escrever.
Pelo menos está entretido e qualquer dia já consegue ler o que escreveu, a quem dele se abeirar.
Os assuntos são variados porque mistura o movimento de rua com as lembranças de muitos anos, todos aqueles em que nada escreveu.
- Assim sendo, até tu deves estar retratada naquelas linhas.
- E depois? Quem escreve é porque se sente vivo. Ou não é?
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