Escritos de Eva

Aqui Eva escreve o que sonha e - talvez - não só. Não tem interesses de qualquer tipo nem alinhamento com sociologias, política, religião ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Estes escritos podem servir de receita para momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Alguns poemas ou textos... Algumas imagens ou fotos... Mulheres e homens, crianças e idosos podem ler Eva e comentar dando a sua opinião.

2006-12-20

Persianas

20 de dezembro de 2006

Ela estava sentada num cadeirão enorme e, não sendo pequena, os seus pés pairavam descalços no ar, sem chegar ao chão.

Uma bata desapertada e fininha naquela manhã tão fria, era a única coisa que a tapava.
Perguntei-lhe se tinha frio e enquanto ela respondia o esperado sim, fui arranjando os chinelos e algo, estilo banqueta, em que pousasse os pés.
Tapei-lhe os ombros com a tal bata, que teimava em escorregar.

Mais composta e arranjada, conseguiu engolir um caldo quente.
A meio já arfava com o calor que a invadia. Começava a recuperar a fala.
Foi então que comecei a olhar melhor para ela.

Tinha as mãos meio ligadas por causa de feridas e para não se aleijar.
O cabelo foi, em tempos, bem tratado. As feições eram finas.
Os olhos queriam fixar-se em mim mas não conseguiam.
De olhar vago, entendia pela voz o lugar onde a pessoa estava.

E a seguir, mais que uma vez, alheava-se da sala.
Fugia em si mesma, não percebendo para onde e se calhar nem porquê.
Perguntei-lhe se estava já bem e se queria mais alguma coisa.

Respondeu que já chegava. Tudo o que lhe continuava a doer era a perna.
Dito isto, escorregou o que pôde no cadeirão para tentar esticar as pernas.
O Sol ia alto e aquele compartimento não deixava ver bem.

Luzes acesas e persianas meio corridas. Deixei as persianas levantadas.
A sua face pareceu iluminar-se, não sei se da luz do sol, se dos seus pensamentos.
Talvez de ambos.
O importante foi que se animou para o dia que aí vinha, já meio vivido e meio por viver.