Escritos de Eva

Aqui Eva escreve o que sonha e - talvez - não só. Não tem interesses de qualquer tipo nem alinhamento com sociologias, política, religião ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Estes escritos podem servir de receita para momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Alguns poemas ou textos... Algumas imagens ou fotos... Mulheres e homens, crianças e idosos podem ler Eva e comentar dando a sua opinião.

2007-06-03

José Vaz # As Lágrimas São Netas Do Mar

3 de junho de 2007
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Vieram dizer ao Mar
que o Sal
andava a portar-se mal.
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Quem veio meter
minhocas na cabeça do velho Mar
foi a Areia e a Espuma.
Tudo porque o Sal
era bonito
e não lhes ligava nenhuma.
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De queixinha em queixinha,
disseram ao Mar
que o Sal
tinha uma namoradinha.
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Chamava-se Gota de Água.
Era linda,
branca, cristalina
e tinha vindo do Céu Azul.
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As duas,
com dores de cotovelo,
contaram ao Mar
as conversas de amor
que tinham ouvido
quando o Sal estava a namorar
muito entretido.
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Então,
a Areia disse que a Gota de Água
falou assim para o Sal:
- Meu bem amado,
..se quiseres casar comigo
..deixarás de ser salgado.
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E a Espuma disse que o Sal respondeu à Gota de Água:
- Minha ternura,
..por ti deito o salgado fora
..e fico uma doçura.
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E neste disse-que-disse,
as duas marotas aproveitaram a maré
e
de tal maneira
atazanaram o velho,
que os seus cabelos ficaram em pé.
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- O Sal virar doçura? – pensou o Pai Mar.
E, ao pensar nisto,
deixou entrar a tristeza e a amargura
no seu imenso coração.
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O Pai Mar nem queria acreditar.
Então,
ele,
pai,
criou o Sal, desde catraio até homem feito,
feito para conservar
a beleza e a saúde dos habitantes do seu reino
- os peixes –
e o rapaz queria tornar-se doçaria?
Não podia!!!
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Chamou o filho e disse-lhe:
- Filho, tem paciência,
..se continuas com o namoro,
..considero desobediência.
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O Sal
fez ouvidos de mercador,
encolheu os ombros,
e continuou o seu grande amor…
pela Gotinha de Água.
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Ao saber
o que o filho tinha decidido,
o Mar ficou bravo,
enraivecido,
tornou-se turbilhão, e foi grande a aflição:
as Ondas andaram numa fona,
os Mexilhões levaram tapona,
a Baleia veio respirar à tona,
um Cavalo-Marinho
tropeçou num penedo e partiu o focinho.
Até uma Gaivota,
de perna manca,
que era vizinha do Mar,
teve de dar à perna para não se afogar.
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O velho Mar,
amargurado e furioso,
pôs o filho fora de casa,
em terra.
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Mas o sal não se importou.
Casou.
Mas, como não havia casas para alugar,
o Sal e a Gota de Água
foram morar
para os olhos das pessoas.
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É por isso
que, quando estamos tristes e amargurados nos nossos corações,
choramos.
E as nossa lágrimas
são salgadas
porque são filhas do Sal e da Gota de Água
e… netas do Mar.
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In “Para Sonhar com Borboletas Azuis”
de José Vaz com ilustrações de Luisa Brandão
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