O pormenor e o todo
24 de maio de 2007
Numa exposição de arte, pintura e escultura, duas pintoras vão parando e observando cada obra com toda a minúcia.
- Esta, da paisagem com as pessoas em alegre piquenique, dá-me vontade de entrar lá e juntar-me ao grupo.
- Já não se usa esse realismo todo. Até parece mal, tanto pormenor.
- Que disparate! A arte e os estilos, quando têm qualidade, não passam de moda. Eu gosto do realismo.
- Bem que eu te digo que esse é um dos teus problemas. Agarras-te a pormenores que só distraem da noção de conjunto.
- Mas a noção de conjunto só existe por causa da soma dos pormenores.
- Ai, ai, ai! Por vezes os pormenores alteram a ideia da pintura. Algumas pessoas, ou porque gostam, ou porque desgostam, ficam a olhar para um determinado pormenor e dali já não conseguem avançar para ver mais nada.
- Tudo é possível ser ultrapassado, de ser transformado.
- Ah sim? Então por exemplo: este fato é garrido e tem estes desenhos ainda mais chamativos. Como é possível ultrapassá-los, podes dizer?
- Ora, inventa que ele é uma túnica em tecido muito fino e vaporoso. A figura é logo outra se esbateres a mesma cor nesse esvoaçar do tecido.
- Visto assim, é verdade, fica outra. Mas também digo que é preciso ter essa tua capacidade. A maior parte das pessoas não consegue soltar-se das amarras do pormenor para atingir o todo que o artista previu na sua obra.
- O que interessa é mostrar o nosso melhor e partilhá-lo com os outros.
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