Ser normal
15 de março de 2007
- Falou sozinho, mas não foi ele que falou.
- Já está no manicómio? Ou numa clínica?
- Não! Já nos habituámos a ele ser assim.
- Assim, como? Passado?
- Disparate! Ele não é “passado”, mas concordo que é diferente da maioria. Se observarmos bem, todos temos algo que nos diferencia dos demais.
- E que teimamos em esconder para não sermos diferentes.
- Pois, mas isso leva a quê? A não ser que falemos de esconder a vontade de violência, o que não é o caso.
- Está visto que ele não está melhor!
- Está na mesma, porque ele nem melhora nem piora - é mesmo assim! Fala por ele e pelos seus pensamentos!
- Pois, só que a voz muda e altera-se!
- Nada disso! A voz é sempre a dele e não altera nada! É mesmo como se falasse alto para consigo mesmo!
- E continua a gesticular e a entusiasmar-se com o que diz?
- Nada, nada! É sossegado, a falar ou calado! Perfeitamente sereno a expor as suas ideias.
- Quais ideias? Ainda aquelas maluquices dos seres como se fossem véus, translúcidos? E que lhe diziam e perguntavam coisas a que ele respondia, sem dar conta se estava no café ou na rua?
- Tu não simpatizas nada com ele, pois não?
- Ai, ai, que a questão não é essa! Mas que não me sinto à vontade na sua companhia, é verdade!
- Pois é! Mas ele é uma jóia e o que vê ou não vê já não sabemos, porque calou-se sobre isso tudo. Deve ter-se fechado!
- Ou está normal?
- Hum, então resta saber o que é normal, para ele e para nós!
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