A luz da vida
29 de março de 2007
Ela veio abrir a porta, toda vestida de escuro, muito mais magra e de ar abatido.
Não conseguia estar ali ao frio, era melhor entrar.
O marido estava muito mal, internado e paralisado numa cama.
Pior, não lhe queria falar, de zangado que estava com ela.
Estava zangado porque não o trazia para casa.
Mas ela não podia cuidar dele, tinha caído desamparada no corredor e, sempre sozinha, tinha conseguido deitar-se.
Passou dias a fio na cama, sem comer, sem poder atender o telefone ou a porta.
Sem conseguir dizer que estava na cama, toda dorida, sem se mexer.
Uma tristeza e agonia estes últimos três meses.
E o marido que nem lhe fala.
As cartas e as contas são tais e em tal quantidade que já nem as abre.
Estão todas naquela mesa, ali.
Nós olhamos e vimos. Um molho delas, ainda fechadas.
E remédios ainda nas caixas, por abrir também.
Os cortinados corridos, a luz acesa e o seu ar triste, outrora um rosto tão risonho. Sempre foram pobres mas ela tinha sempre um sorriso.
Vamos tentar ajudar o marido a compreender a situação.
No meio disto tudo, que haja entendimento no seu amor.
O amor, em novos como em velhos, é sempre a luz da vida, que supera falta de saúde, de dinheiro, enfim, que é superior a todas as faltas.
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