Lágrimas
27 de março de 2007
- Emagreceu muito, coitadinha. A roupa está tão larga que lhe cai.
- É preciso outra roupa mais justa e, se possível, vestidos tipo bata.
- Mas dá pena toda esta roupa de seda e de bons tecidos ir fora, para o lixo.
- Se observar bem, está quase toda rasgada ou estragada.
- Ah, pois está! É de estar sempre na mesma posição, não é?
- Pois é; e as fraldas, a idade e a doença que não a deixam mexer, acabam por rasgar facilmente a roupa.
- Está nova numas partes e estragada noutras.
- Coitadinha, ela gostava tanto de vestir bem. Vamos ver o que se pode arranjar.
- Não se esqueça que a roupa deve facilitar a mudança das fraldas.
- Vou dar hoje uma volta pelas lojas e ver o que se pode arranjar.
- Mas achas que ela está assim tão magrinha?
- Não se nota, assim sentada. Mas se dizem que a roupa não lhe serve e está estragada…
- De cara está muito melhor, mais rosadinha. Sempre linda.
- Só não percebo como é capaz de ter aquele ar sereno, haja o que houver. Eu sei que hoje, por exemplo, está cheia de dores.
- Mas não diz nada!
- Pois não, mas o olhar, às vezes, mostra as dores; parecem gritar a dor. Mais nada no seu rosto trai o seu sentir, o seu sofrer. Sempre quieta e serena, sorrindo amável. E dos seus olhos, quantas vezes, caem as lágrimas lentamente. E se lhe pergunto se está pior, responde que não me preocupe, que é mesmo assim, que às vezes tem dores que a entristecem.
- Nunca conheci ninguém assim.
- Nem eu!
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