Hans Christian Andersen # O Colarinho Postiço
Havia uma vez um elegante cavaleiro que tinha por todo mobiliário um descalçador e uma escova para os cabelos, mas possuía o mais belo colarinho postiço do mundo, e é uma história de colarinho de camisa que vamos escutar. Ele estava em idade de pensar em casamento, e sucedeu que encontrou um liga na lavagem.
– Não – disse o colarinho postiço –, jamais vi pessoa assim esbelta, delicada, meiga e gentil. … …
– É que sou um elegante cavaleiro – disse o colarinho postiço –; possuo um descalçador e um pente!
Não era verdade, era o amo quem os possuía, mas ele gabava-se.
– Não se aproxime de mim – disse a liga –; não estou habituada a isso! … …
E foi retirado da lixívia, … e posto na tábua de passar a ferro; então, chegou o ferro quente.
– Minha senhora! …viuvinha … Uh! Peço-lhe a sua mão!
– Trapo! – disse o ferro, … …
O colarinho postiço desfiava-se um pouco nas pontas e a tesoura de papel chegou para lhe cortar os fios.
– Oh! – disse o colarinho postiço –, deve ser uma primeira-bailarina! … …
– Será que ele me pede a mão? – disse a tesoura.
E deu-lhe um bom corte que o trouxe à razão.
– Nesse caso é preciso pedir para casar com a escova. … Nunca pensou em ficar noiva?
– Claro que sim, sabe-o bem – disse a escova –, estou noiva do descalçador.
– Noiva! – disse o colarinho postiço. … sentiu-se muito despeitado.
Decorreu um longo momento, e o colarinho postiço chegou numa caixa à fábrica de papel.
– Tive um número prodigioso de noivas – disse o colarinho postiço –, não conseguia estar tranquilo! … …
Jamais olvidarei a minha primeira noiva, era uma cinta, elegante, doce e gentil, atirou-se a uma selha de água por minha causa … … Havia também uma viúva … mas meti-a na ordem … E havia a primeira-bailarina, deu-me o golpe que ainda mostro, estava danada! A minha própria escova dos cabelos se apaixonou por mim …
E todos os trapos … foram transformados em papel branco, e o colarinho postiço tornou-se … no bocado de papel branco … onde esta história está a ser impressa; ele ficou assim porque se gabou descaradamente do que nunca lhe sucedera; nós devemos pensar em não nos conduzirmos desse modo, porque nunca podemos saber se não iremos também um dia na caixa dos trapos, para sermos transformados em papel branco e vermos toda a nossa história impressa em cima, mesmo o que ela tiver de mais secreta, de modo que seríamos obrigados a correr a contá-la por toda a parte, como sucedeu com o colarinho postiço.
”O Colarinho Postiço” de Hans Christian Andersen
in "Histórias Para Crianças", Apresentação e Selecção de João Costa
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