Escritos de Eva

Aqui Eva escreve o que sonha e - talvez - não só. Não tem interesses de qualquer tipo nem alinhamento com sociologias, política, religião ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Estes escritos podem servir de receita para momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Alguns poemas ou textos... Algumas imagens ou fotos... Mulheres e homens, crianças e idosos podem ler Eva e comentar dando a sua opinião.

2007-03-18

Hans Christian Andersen # O Colarinho Postiço

18 de Março de 2007

Havia uma vez um elegante cavaleiro que tinha por todo mobiliário um descalçador e uma escova para os cabelos, mas possuía o mais belo colarinho postiço do mundo, e é uma história de colarinho de camisa que vamos escutar. Ele estava em idade de pensar em casamento, e sucedeu que encontrou um liga na lavagem.
– Não – disse o colarinho postiço –, jamais vi pessoa assim esbelta, delicada, meiga e gentil. … …
– É que sou um elegante cavaleiro – disse o colarinho postiço –; possuo um descalçador e um pente!
Não era verdade, era o amo quem os possuía, mas ele gabava-se.
– Não se aproxime de mim – disse a liga –; não estou habituada a isso! … …
E foi retirado da lixívia, … e posto na tábua de passar a ferro; então, chegou o ferro quente.
– Minha senhora! …viuvinha … Uh! Peço-lhe a sua mão!
– Trapo! – disse o ferro, … …
O colarinho postiço desfiava-se um pouco nas pontas e a tesoura de papel chegou para lhe cortar os fios.
– Oh! – disse o colarinho postiço –, deve ser uma primeira-bailarina! … …
– Será que ele me pede a mão? – disse a tesoura.
E deu-lhe um bom corte que o trouxe à razão.
– Nesse caso é preciso pedir para casar com a escova. … Nunca pensou em ficar noiva?
– Claro que sim, sabe-o bem – disse a escova –, estou noiva do descalçador.
– Noiva! – disse o colarinho postiço. … sentiu-se muito despeitado.
Decorreu um longo momento, e o colarinho postiço chegou numa caixa à fábrica de papel.
– Tive um número prodigioso de noivas – disse o colarinho postiço –, não conseguia estar tranquilo! … …
Jamais olvidarei a minha primeira noiva, era uma cinta, elegante, doce e gentil, atirou-se a uma selha de água por minha causa … … Havia também uma viúva … mas meti-a na ordem … E havia a primeira-bailarina, deu-me o golpe que ainda mostro, estava danada! A minha própria escova dos cabelos se apaixonou por mim …
E todos os trapos … foram transformados em papel branco, e o colarinho postiço tornou-se … no bocado de papel branco … onde esta história está a ser impressa; ele ficou assim porque se gabou descaradamente do que nunca lhe sucedera; nós devemos pensar em não nos conduzirmos desse modo, porque nunca podemos saber se não iremos também um dia na caixa dos trapos, para sermos transformados em papel branco e vermos toda a nossa história impressa em cima, mesmo o que ela tiver de mais secreta, de modo que seríamos obrigados a correr a contá-la por toda a parte, como sucedeu com o colarinho postiço.
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”O Colarinho Postiço” de Hans Christian Andersen
in "Histórias Para Crianças", Apresentação e Selecção de João Costa