21 de janeiro de 2007
A Extraordinária Aventura Sucedida a Vladimiro Maiakovski, no Campo, Durante um Verão
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Por fim, tomado de tal cólera
que ao meu redor tudo se encolheu amedrontado,
gritei, de rosto erguido ao sol:
«Desce!
Já basta de flanar pelas fornalhas!»
Gritei:
«Madraço!
Tu para aí a mandriar nas nuvens
e eu, olha p'ra mim, quer chova ou faça vento,
suo sobre os meus cartazes.»
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Horror, que fui fazer!
É a minha desgraça!
Direito a mim,
sem se fazer rogado,
o sol
marcha nos campos,
alargando a passada dos seus raios.
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Mas do sol escorria singular
e sereno clarão, -
e em breve
é sem mais cerimónias
que nos pomos
os dois a conversar.
Digo-lhe isto,
digo-lhe mais aquilo,
conto como a Rosta me devora,
e diz-me o sol:
«Vá lá
não te amofines,
não compliques tudo!
Julgas que para mim
é simples
brilhar?
Experimenta, a ver!
Mas prometemos
e vai disto,
brilha-se a toda a força!»
Cavaqueámos assim
até ser noite, -
perdão, até ao que, antes, era noite.
Como falar de escuridão ali?
Tu cá, tu lá,
estávamos à vontade.
Breve
lhe dou no ombro
amigáveis palmadas.
E o sol, então:
«Existes tu, existo eu,
Existimos, meu velho, nós os dois!
Subamos, pois, poeta,
à altura das águias,
cantemos
sobre os cabelos do mundo.
Sobre ele eu lanço esta luz que me é própria
e tu, a tua -
em verso.»
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Se o outro se fatiga
e à noite
quer é ir para a cama,
cabe-me a vez a mim,
sùbitamente erguido, a dardejar meus raios,
e o carrilhão do dia uma vez mais ressoa.
Brilhar sempre,
brilhar por toda a parte,
até ao fim último dos dias,
brilhar -
e nada de aranzéis!
Eis a palavra de ordem para mim
e
para o sol.
in "Autobiografia e poemas"
de Maiakovski
.
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