Tantos anos...
20 de novembro de 2006
Sentado no seu cadeirão habitual falava-lhe de tudo o que se conseguia lembrar.
Ela ouvia e comentava. Conversavam finalmente.
Durante anos, ele fingia que não ouvia e ela fingia que se calava.
Estavam desencontrados na acção, mas no pensamento estavam sempre de acordo e completavam-se.
Tantos anos juntos. Parecia mentira como o tempo passava tão depressa.
Fizeram muitas coisas juntos. E outras ficaram por fazer.
O tempo de conversa fácil foi uma delas. Finalmente é tempo de poderem falar um com o outro.
Ele conta-lhe agora imagens que lhe acodem à mente. Umas até nem são boas, outras são disparatadas. Parecem um limpar de imagens de filmes ou sonhos ou qualquer outra coisa.
Parece que uma vassoura vai limpando as poeiras e lixos da sua cabeça. Lá dentro da sua cabeça, sim...
Ela lembra uns versos que lera um dia e gostara tanto que ainda não esquecera.
Eram assim: "A vida é o clarão do pirilampo na noite; é a sombra que se perde no sol".
- Então a vida pode ser sempre luminosa. É isso, não é?
- Foi o que eu entendi e por isso to digo agora. Porque, para mim, tu também foste uma luz na minha vida.
- Dizes coisas tão boas sobre a nossa vida. Ainda bem que fomos úteis um ao outro.
- Ainda bem que existimos um para o outro. E que essa existência seja um exemplo para os dias em família dos nossos filhos.
- Ainda bem que consegues limpar as poeiras da vida. Vou ver se consigo fazer o mesmo, para poder ir indo mais leve.
- Quando quiseres, porque todos os dias são bons para ir, se já se cumpriu o dever de estar aqui.
- Deixamos uma boa recordação, não deixamos?
- Acho que sim!
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