Viuvez
23 de outubro de 2006
Exames, escolas, trabalhos.
Ou cultura, instrução, preparação para o futuro de cada um no trabalho e na família.
Tudo muito bonito, tudo muito esforçado, tudo bem encaixado nas horas de cada dia.
Nas horas da imprescindível agenda - de papel ou electrónica.
Hora de ponta e lá vai meio-mundo para o trabalho.
Frenesim nos transportes, nos cafés e pastelarias, finalmente às portas dos empregos.
Os bons dias habituais. Começa a rotina diária.
Diz uma empregada que gosta de vir trabalhar. Distrai-se e ainda lhe pagam.
O trabalho não é nada especial, as colegas nem por isso. Mas sai de casa.
Mora sozinha, enviuvou há pouco e a casa está demasiado silenciosa.
O melhor era mudar as coisas de sítio, da sala ao quarto. Os adornos, o sofá, tudo!
De modo a entrar como se fosse noutra casa. Não é susto, nem medos, nem sequer saudade.
É o vazio da casa. Não há mais ninguém. Um silêncio que só visto.
Adormece nas cadeiras ou no sofá. Ou vai para o café.
Ainda não limpou nem pó, nem chão - nada. Não consegue mexer em nada.
A tristeza afoga, sabem? É silenciosa. Agora vêm aí dias de folga acumulados e que têm que ser gozados.
Não pode ir trabalhar. Nem sei como vai ser.
Pinte a casa, encere e envernize o chão. Tire as roupas do armário e ofereça as dele, ainda boas.
As outras, deite fora.
Uma semana depois vem ela, penteada, arranjada, parece gente viva!
Um cabeleireiro bom faz milagres numa mulher.
Mais alegre, mais ela - querida, amorosa como sempre a conheci.
A novidade agora é o ar mais descansado de quem já dormiu bem. E o sorriso.
Um sorriso que a ilumina como o sol no céu.
Decidiu não chorar os dias sem ele.
Vai viver serenamente até poder ir ter com ele.
Arranjada como ele gostava.
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