No tempo da água
20 de outubro de 2006
Dia cinza. Águas chegando à praia. Sem ondas. Mas calmo e cinza. Águas volumosas.
Ele olha para dentro daquela água toda e lembra um dia lindo de céu azul, sol brilhante.
Do alto do penhasco, cheio de flores, atirara-se em elegante mergulho para as águas então azuis e reluzentes.
Não se lembra do que aconteceu a seguir e agora está ali.
Nesta praia não é necessário mergulhar para chegar à água. Basta caminhar para dentro dela.
Fundir-se com ela. É bom nadar por dentro dela.
Não, não é mergulhando. É simplesmente nadando por dentro, sem vir à tona de água nem para respirar.
É conseguir a simbiose. A união entre o elemento água e o seu corpo.
Já percorreu uma longa distância desde a praia.
A água agora é escura, azul muito escuro por baixo dele. Mas muito azul junto à superfície.
Os peixes passam por ele como se ele é que estivesse num aquário.
Não lhe ligam nenhuma. Mas desviam-se quanto baste.
Lembra-lhe a descrição dos buracos negros, ou seja, existem e não se percebem, a não ser numa única direcção.
E se os buracos negros fossem isso mesmo, fendas ou desníveis intemporais ou inter-dimensionais ou inter-universos?
Ou tudo isso ao mesmo tempo, seja ele o que seja. Doutro tempo, doutra dimensão, doutra virtualidade.
E, no entanto, existe - vive. Quando será o tempo do não-tempo?
Quando será possível a ciência provar a pluralidade da existência do ser?
Assim do mesmo modo que explica a sucessão dos dias e das estações num único lugar.
E em todos os lugares conhecidos, de modo diferente para o tempo de aparecimento do mesmo fenómeno.
Talvez os cientistas consigam perceber que o seu laboratório não é tão estável quanto lhes parece.
Talvez possam ser mais doutores que professores.
Olá... começaram agora ondas boas para fazer surf na mesma praia de "agorinha".
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