Escritos de Eva

Aqui Eva escreve o que sonha e - talvez - não só. Não tem interesses de qualquer tipo nem alinhamento com sociologias, política, religião ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Estes escritos podem servir de receita para momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Alguns poemas ou textos... Algumas imagens ou fotos... Mulheres e homens, crianças e idosos podem ler Eva e comentar dando a sua opinião.

2006-05-18

18 de maio de 2006

Mulher alta, magra, cabelos escuros malhados de muitos brancos em caracóis curtos.
Olhar vivo e desembaraçado. Algo bruta e muito áspera no convívio com os outros.
Mas muito franca e talvez demasiado directa.
Quase todos a consideram antipática - o que até é verdade.
No entanto, senti aqueles olhos chorar e aquele corpo tremer de soluços.
E ela falava em tom decidido, quase sem respirar.
Explicava que se não fosse ela a fazer o mais difícil, alguns podiam até morrer de fome ou falta de tratamento. Era preciso forçá-los.
E eu pensava em quanta doçura seria necessária para amaciar aquela brusquidão toda.
Como seria possível parar aqueles soluços que estavam na outra, paralela dela própria, e que me continuava a fitar.
Falei pensando, com todo o carinho que tinha.
Acariciei-lhe os caracóis.
Disse-me que nunca ninguém lhe tinha falado assim.
Parou de soluçar mas as lágrimas faziam um riacho no chão.
Conversámos enquanto a uma dela falava, andava e praguejava.
Sorrimos e olhámos ambas para a uma que finalmente olhou para nós, admirada.
E parou a pressa de viver à pressa.