18 de maio de 2006
Mulher alta, magra, cabelos escuros malhados de muitos brancos em caracóis curtos.
Olhar vivo e desembaraçado. Algo bruta e muito áspera no convívio com os outros.
Mas muito franca e talvez demasiado directa.
Quase todos a consideram antipática - o que até é verdade.
No entanto, senti aqueles olhos chorar e aquele corpo tremer de soluços.
E ela falava em tom decidido, quase sem respirar.
Explicava que se não fosse ela a fazer o mais difícil, alguns podiam até morrer de fome ou falta de tratamento. Era preciso forçá-los.
E eu pensava em quanta doçura seria necessária para amaciar aquela brusquidão toda.
Como seria possível parar aqueles soluços que estavam na outra, paralela dela própria, e que me continuava a fitar.
Falei pensando, com todo o carinho que tinha.
Acariciei-lhe os caracóis.
Disse-me que nunca ninguém lhe tinha falado assim.
Parou de soluçar mas as lágrimas faziam um riacho no chão.
Conversámos enquanto a uma dela falava, andava e praguejava.
Sorrimos e olhámos ambas para a uma que finalmente olhou para nós, admirada.
E parou a pressa de viver à pressa.
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