Só ele sabia?
Um corpo destroçado deu à costa, ali mesmo, na areia da praia.
Metade já não existe, só parte do torso e a cabeça.
Mas percebe-se logo que é de mulher.
A cabeça, a cara e o cabelo estão quase intactos. O resto…
Foi um acidente no mar, disseram logo umas vozes.
Foi um suicídio nas rochas, disse uma voz, aos gritos.
Falando alto ou baixo, todos vieram ver e ajudar a tapar o corpo.
Levaram-no num lençol para o hospital resolver o “resto”.
No regresso, os comentários continuavam.
Falaram do aspecto bonito da cara, do horror dos destroços, etc. e, no fim, todos concluíram que o corpo é simplesmente algo que se gasta e destrói. Seja de modo violento ou não.
Um deles, que se tinha mantido calado o tempo todo, falava agora?
- Vocês repararam no coração?
- No coração? Porquê? A bater não estava, de certeza!
Não era o bater! Eles não viram o coração como ele? Não repararam como o corpo se tornara, de modo intermitente, quase transparente e, nesses momentos, ficava nítido o coração, vivo e a bater e a iluminar o corpo por dentro?
Não repararam que quando isso acontecia, a figura dela, inteira e linda de luz, brilhava dentro “daquilo” que tinha dado à costa?
Ele era o mais velho, mas era assim tão velho que só ele sabia que o amor não morre com o corpo?
E que o amor sublime é assim! Que pulsa eternamente porque ultrapassa tudo – o tempo, o espaço, esta experiência de vida?
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Imagem retirada da net
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Disse Arthur C. Clarke : quando um cientista reputado mas velho afirma que algo é possível, quase de certeza que tem razão. Quando afirma que algo é impossível, muito provavelmente está enganado !
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