Antagonismos
Duas pessoas que se encontram e mentalmente se afastam, a fugir, a correr, uma da outra…
Delicadamente, no entanto, cumprimentam-se e falam de nada.
De nada importante ou sequer que valha a pena relatar.
A rejeição persiste e nenhum deles sabe porquê.
Só sabem que tomara estarem longe um do outro; a milhas!
Causam-se arrepios mútuos, um constrangimento horrível a tolher-lhes os movimentos.
Sem saberem da reacção do outro, interrogam-se no íntimo.
Que será isto? Porque provoca este desespero, este pavor, aquele indivíduo, aparentemente tão simpático?
Há memórias que nos transportam ao princípio e ao fim dos tempos. Dos nossos próprios tempos.
Memórias nossas, de nós connosco. Memórias de outras eras.
Alhures deve estar esse aí que continua a gesticular e a falar de modo educado.
Ultrapassam ambos a situação de modo civilizado e com despedidas cordiais.
Conversas de circunstância, simples.
Conversas que, a repetirem-se, talvez sejam um processo de cura de algo que chega do passado ao presente, sem aviso prévio.
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O falso espellho
René Magritte
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Disse Julia Kristeva : o estrangeiro está em nós. Quando fugimos ou combatemos o estrangeiro, lutamos contra o nosso próprio inconsciente !
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