A luz e o perfume
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Ela, com os ossos deformados, a cara inchadíssima, o olhar no tecto, quase parados, sem mexer as pálpebras sequer.
Continuava na cadeira de rodas.
Ele, uma pálida sombra do que já foi. Agora completamente quebrado de dor e solidão.
Outra ela, magríssima pela dor da viuvez de um casamento feliz – não! – felicíssimo.
Duas almas gémeas tinham-se encontrado e depois da alegria da primeira neta, ainda bebé, ele falece “de repente”.
Tanta mágoa e amargura nesse olhar, nos gestos , até o modo de andar parece triste.
Outra ela está cheia de dores e inconsolável porque não tem boa posição de estar. Um desespero a cada instante.
À frente destes todos aparece uma figura de luz. Ou, melhor dizendo, talvez, uma luz suave com semelhança a uma figura de gente.
Essa luz brilhava… assim… simplesmente… algo ondulante, no meio da sala.
A princípio não repararam nela, isolados que estavam no seu próprio sofrimento.
A luz aproximou-se de cada um e como que os trespassou.
À vez, também eles se transformaram na dita luz.
Ficaram nessa ondulação suave, nessa transparência de luz.
E calaram-se… e depois choraram. Choraram muito.
E a luz, como apareceu, desapareceu.
E a sala ficou vazia porque eles também desapareceram.
Não sei como foi.
Mas sei que a sala ficou com um magnífico e doce perfume.
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