Finalmente
Centenas ou milhares de pessoas – homens, mulheres, crianças e jovens – estão todos juntos, como que concentrados numa planície de terra batida.
Estão entorpecidos, meio sujos e desarranjados.
Caminham lentamente, dirigindo-se para o horizonte, para sul, na direcção do mar.
Chegam à borda de um penhasco e olham, sem entusiasmo, para o mar que finalmente lhes aparece à frente. Longe, mas já à vista.
E sentam-se, entre o cansado e o desiludido (ou talvez amargurado).
Passaram fome de justiça, tiveram pena de si próprios – sentiram o pesar de terem chegado àquela situação medíocre.
Passaram a sede e a ânsia da vontade de melhorar.
Passaram a esperança – a que nunca morre – de encontrar outro destino.
Passaram a morte de tudo aquilo que acreditaram e gastaram uma vida a tentar conseguir.
Passaram a desilusão e a angústia de se olharem ao espelho de si mesmos e não ver nada do que esperavam.
Passaram a autocrítica fácil e a feroz sobre as suas capacidades e oportunidades perdidas, geralmente de modo leviano e insensato.
Insensato por pensarem que tudo era só e apenas o seu presente.
Finalmente compreenderam, entenderam, no seu mais íntimo ser, que o presente era apenas uma migalha do que eram.
Eram todo o seu passado, todos os horrores da ignorância, a calamidade dos pensamentos impensados.
Finalmente perceberam a luz dourada que brilhava do sol sobre o mar.
O mar azul e dourado das oportunidades da sua vida esteve, afinal, sempre ali.
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A Torre de Babel
Brueghel
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Disse Júlio César : em geral, os homens acreditam facilmente naquilo que desejam !
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