Escritos de Eva

Aqui Eva escreve o que sonha e - talvez - não só. Não tem interesses de qualquer tipo nem alinhamento com sociologias, política, religião ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Estes escritos podem servir de receita para momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Alguns poemas ou textos... Algumas imagens ou fotos... Mulheres e homens, crianças e idosos podem ler Eva e comentar dando a sua opinião.

2007-10-03

Sussurros

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Uma senhora, de meia-idade mas já grisalha, está sentada à janela.
Olhando, sem ver, a rua e os espaços lá fora, as pessoas e todo o movimento que ali vai passando.
Pensativa, imagina como será ela, quando a velhice chegar.
Pensa muito nisso, nas suas condições físicas, nas suas possibilidades, ou melhor, nas suas impossibilidades.
E a vida continua languidamente lá fora da sua janela.
A janela e aquele sítio onde passa os dias são a sua vida (ou o seu modo de vida).
Conhece todos os que ali passam, isto é, conhece-lhes alguns hábitos, os horários, o modo de conduzir e estacionar os carros, os que esperam o autocarro, os que passam apressados…
Mas ela não os vê porque não os pode já ver – mas conhece-os.
Porque ela conhece todos os pormenores que os individualizam uns dos outros.
Assim como distingue os pássaros e as árvores onde têm os ninhos.
Assim como distingue os cães que fazem o seu passeio diário e voltam a entrar nos portões das suas casas.
Como conhece os gatos e até as lagartixas que passam, sorrateiras, no seu parapeito.
Ela percebe todos os cambiantes, todas as mazelas e todas as alegrias que transparecem junto da sua janela.
Ela, que nunca os viu, reconhece-os, percebe-os intuitivamente, depois de os observar muitas vezes – por hábito e curiosidade.
Por outro lado, quantos conhecemos nós que, vendo bem, não são capazes de perceber sequer quem os rodeia!
A velhice há-de ser benevolente para ela e, um dia, vai voar com a brisa para a eternidade (foi o que lhe sussurraram).
- Quem?
- Não sei, acaba assim!
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Adriaen van Ostade