O sofrimento
25 de junho de 2007
Latidos, ganidos lancinantes. Os cães das casas e quintas perto, ladram de seguida sem parar, andando meia à toa, de um lado para o outro.
Um enorme desassossego, de tal ordem que as pessoas vêm à porta ou aos portões.
Todos perguntam o que foi e os ganidos de dor continuam.
Deduzem que um cão deve ter sido atropelado pois não pára de ganir.
Só que ninguém o vê, só se ouve, e bem!
Onde estará o pobre bichinho? E saem velhos e novos pelos caminhos, à procura, atrás dos sons que se fazem ouvir.
Mas ao barulho das pessoas os latidos calam-se.
Trazem então outros cães, os seus, que andam às voltas e se encontram e brincam uns com os outros, mas não apontam nenhum sítio.
Finalmente alguém o vê! Um vulto a tremer, a tremer, lá bem ao fundo duma garagem, por baixo de um carro.
Tentam tirá-lo mas não conseguem. Ele arrasta-se, escorredio, e não conseguem puxá-lo.
Deixam-no estar, então.
E assim decorrem horas com ganidos desesperados, tornando-se cada vez mais espaçados e abafados.
Custa perceber o sofrimento e não poder fazer nada.
Nas notícias, constantemente, vêem-se e ouvem-se relatos de guerras entre facções rivais e mortes e mais mortes.
- Custa perceber o sofrimento… e às vezes só conseguimos, ou só podemos, entregar o nosso amor ao céu para uma nuvem o levar e aliviar o que sofre. Sarar é mais difícil. Aliviar assim qualquer um pode, porque está ao alcance de todos os que quiserem.
- Olha... o céu ficou cor-de-rosa!
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