O tocador de violino
27 de novembro de 2006
Ele tocava violino como ninguém - era o que lhe diziam.
E o violino era a sua vida. A sua razão de trabalho.
Tocava sempre que podia. A música dele ou doutros era a sua felicidade.
Tocava até em pensamento; em sonhos e, quando acordava, tentava tocar aquela melodia que sonhara.
Viveu e morreu para a música e para o violino.
A paixão era tal que sonhava que tinha morrido e continuava a tocar.
Tocava nas nuvens, no céu: aos que passavam, mais brancos de vestes ou mais normais; aos que iam a correr ou mais devagar.
Mas antes, como agora, não encontrava ninguém como ele.
Sempre se sentiu só. Isolado mesmo. E continuava a sentir esta solidão.
Um dia, um velhinho chegou perto dele e perguntou delicadamente se podia ficar ali a ouvi-lo tocar.
Passou algum tempo e o velhinho perguntou-lhe porque só tocava sem falar nada.
Ele, velhinho, estava ali a fazer-lhe companhia e o tocador nem reparava.
Claro que reparara, ele até tocava sem repetir as músicas em sua atenção.
Podia ser, mas não se notava nada essa dedicação. Nem em gestos se notava algo diferente de quando estava sozinho.
Às vezes - continuou o velhinho - parece-nos uma coisa pela outra. Se calhar esteve sempre rodeado de amigos que nunca notou.
Se calhar dedicou-se a pessoas que nunca o viram.
Tem que pensar e agir em conformidade.
Pensar e contra-pensar de si mesmo, não leva a nada a não ser a disparates sobre disparates.
Tem que criar um objectivo ou um caminho para si e segui-lo de corpo e alma, partilhando-o com quem tem ao seu lado.
Pois, se calhar, pode ser útil também ao outro.
Partilhar o que temos é, talvez, o mais importante.
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