Vozes
30 de dezembro de 2006
Recados e mais recados. Eles parecem soar dentro da cabeça, sem interlocutor à vista do mundo. São correcções à conduta. Correcções à maneira de ver as coisas.
Ouve-se que "burro velho não aprende línguas" dentro da cabeça.
Quem ouve tem tendência para duvidar da sua lucidez.
Será que está a ficar tresloucado?
Na sua cabeça surge claramente, sem ninguém pedir licença, naquele momento em que escolhe o que quer do supermercado, a resposta de que todo o momento é altura de melhorar a visão da própria vida.
E se está velho, então o melhor é ter alguma pressa porque o tempo pode já não ser tanto quanto o desejável.
Ai, que ele não está a gostar nada disto! Nem é tanto do recado, é mais da questão das vozes.
Se nunca ouviu vozes antes, porquê ouvi-las agora? É de desconfiar...
Não é tempo de desconfiar pois isso foi o que fez toda a vida.
Desconfiava tanto dele mesmo que nunca ouviu nada do que lhe diziam.
Mas... diziam, quem?
Isso não era importante, o que era importante era a sua transformação.
Mas qual transformação, qual nada...
Vivia bem, preparou a velhice com cuidado, trabalhou honestamente, comportou-se sempre de modo moralmente correcto... Que era isto agora?
Precisamente por ter sido sempre honesto com os outros é que precisava agora de ser honesto consigo mesmo...
Ai, ai, ai... caramba!
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