O alento
Alguém está caído no chão. Não sei se no chão de uma casa, ou de uma rua, ou ainda de uma estrada.
Parece ser uma mulher e, de cada vez que tenta levantar-se, cai.
Usa uma túnica e tem um aspecto ainda jovem. Resolve arrastar-se para conseguir mover-se.
Não vê ninguém por perto e vai chorando. Não grita nem soluça.
Simplesmente lhe vão caindo lágrimas enquanto vai murmurando, lentamente, algumas frases.
São essas palavras que lhe dão alento e é com elas que se vai movendo.
Quando pára de falar também param os seus movimentos. Mesmo na sua lentidão, pára.
Não é reza nem prece. Parecem mais versos ou palavras de esperança relacionadas consigo própria.
Ou seja, não são frases conhecidas, mas parecem fazer muito sentido para ela.
Por vezes arrasta-se mesmo, mas no meio do deserto em que se encontra (já não é, de todo, o chão de uma casa), começam a despontar umas ervas rasteiras à sua frente.
Ela aproveita para se ajudar a si própria a avançar, agarrando-as.
Após o que pareceram horas dessa angústia, ela senta-se sobre as suas pernas dobradas, levanta um pouco a cabeça e abre um pouco mais os olhos, até aí semicerrados.
Finalmente ouve-se o que ela diz, à luz forte do sol: Graças à força infinita do amor!
Igreja de Zuidbroek, Holanda
Escultura Mater Dolorosa (fragmento)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home