Escritos de Eva

Aqui Eva escreve o que sonha e - talvez - não só. Não tem interesses de qualquer tipo nem alinhamento com sociologias, política, religião ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Estes escritos podem servir de receita para momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Alguns poemas ou textos... Algumas imagens ou fotos... Mulheres e homens, crianças e idosos podem ler Eva e comentar dando a sua opinião.

2007-09-14

A culpa e o remorso

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Anos e anos mantendo um sentimento de culpa pela morte de outro – um amigo.
Desejou-lhe a morte para se livrar dele, da sua presença, que se tornara incomodativa.
Gostavam de coisas diferentes e, nessa concorrência, ficava sempre para o mais velho deles a escolha.
O capricho ou a amargura, a pena de si mesmo ou a impaciência fizeram o resto. E o amigo morreu de doença grave e algo prolongada.
No dia que lhe anunciaram a morte, sentiu-se gritar por dentro.
Sentiu um desespero que nunca tinha sentido e, em instantes, reviu as suas atitudes egoístas.
Afinal admirara sempre o amigo pela sua rectidão, pela sua alegria franca, pelo apreço que todos lhe devotavam.
Tinha figura e carisma a condizer. Enfim, nada a apontar.
Então como fora possível essa atitude, essa má vontade de querer livrar-se dele e por isso – apenas por isso – desejar-lhe a morte até em rezas?
Incompreensível, a não ser que estivesse louco.
A culpa e o remorso doíam-lhe constantemente. Jurou não voltar a desejar mal a nada nem a ninguém.
Um dia, anos passados, sonhou acordado (porque parecia um sonho, mas ele sabia que estava acordado) que o amigo estava ali à sua frente a perdoar-lhe e a pedir a Deus por ele mesmo, que lhe perdoasse tanta ignorância.
Ignorância do mal que, afinal, tinha feito a si mesmo: o remorso não o deixava viver!
- Agora (dizia-lhe o amigo), tens que transformar esse remorso em amor fraterno por todos os que erram como tu!
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Leão

Rembrandt