A culpa e o remorso
Anos e anos mantendo um sentimento de culpa pela morte de outro – um amigo.
Desejou-lhe a morte para se livrar dele, da sua presença, que se tornara incomodativa.
Gostavam de coisas diferentes e, nessa concorrência, ficava sempre para o mais velho deles a escolha.
O capricho ou a amargura, a pena de si mesmo ou a impaciência fizeram o resto. E o amigo morreu de doença grave e algo prolongada.
No dia que lhe anunciaram a morte, sentiu-se gritar por dentro.
Sentiu um desespero que nunca tinha sentido e, em instantes, reviu as suas atitudes egoístas.
Afinal admirara sempre o amigo pela sua rectidão, pela sua alegria franca, pelo apreço que todos lhe devotavam.
Tinha figura e carisma a condizer. Enfim, nada a apontar.
Então como fora possível essa atitude, essa má vontade de querer livrar-se dele e por isso – apenas por isso – desejar-lhe a morte até em rezas?
Incompreensível, a não ser que estivesse louco.
A culpa e o remorso doíam-lhe constantemente. Jurou não voltar a desejar mal a nada nem a ninguém.
Um dia, anos passados, sonhou acordado (porque parecia um sonho, mas ele sabia que estava acordado) que o amigo estava ali à sua frente a perdoar-lhe e a pedir a Deus por ele mesmo, que lhe perdoasse tanta ignorância.
Ignorância do mal que, afinal, tinha feito a si mesmo: o remorso não o deixava viver!
- Agora (dizia-lhe o amigo), tens que transformar esse remorso em amor fraterno por todos os que erram como tu!
Leão
Rembrandt
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