Criança menina-mulher
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Era uma criança com outra, só que muito mais pequena.
Uma menina-mulher de 11 ou 12 anos apenas, bonita e simples como só se pode ser nessa idade.
Sobretudo quando a paisagem à volta é turbulenta, de guerrinhas entre grupos, que assolam populações pobres.
Rapariga forçada a ser mulher por qualquer desvario desconhecido e vagabundo.
Algo fica, não “resto” que os restos são desperdiçados e o que fica não é desperdício.
Mas uma rapariga tão jovem sofre suplícios, sem assistência e ainda com medos e fome a fazê-la tremer ainda mais.
Outras mulheres, mais velhas e experientes, juntam-se para a ajudar e a essa reunião e barafunda de opiniões seguem-se horas dolorosas. Das maiores dores que se podem sentir.
Parecem chorar os dois seres, o de dentro e o que lhe deu guarida meses a fio.
Meses de trabalho constante, de fome permanente, de refúgios sonhados sempre – acordada ou a dormir.
Tanta desgraça, tanto esforço no meio de tanta amargura de vida; como um sol brilhante de esperança, chora já um recém-nascido que colocam em cima da barriga da mãe, valente criança-jovem mãe.
Ele vem com olhar vivo de esperança. As mulheres olham com dúvidas e a sua mãe olha-o entre o alívio das dores e o espanto de dias tão diferentes para viver a partir daí.
Ela, que precisa de ajuda e protecção para sobreviver, vai alargar o olhar e o sentir para englobar nela mesma outro mais necessitado de protecção.
- Acho que não pode dar mais porque está a dar até bem mais do que tem!
- Ohh, mas ela consegue!
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Crianças na guerra civil espanhola (1936-1939)
Fotógrafo desconhecido
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