O gato
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A senhora vivia sózinha há já muitos anos e, nessa solidão, ficou com um gato.
A dedicação era grande entre um e outro e o gato fazia-lhe muita companhia.
Um dia, sem mais nem ontem, a senhora caíu no chão e não se levantou.
A vizinha ouviu um barulho e como não a ouviu mais nem a viu nos horários dos encontros costumeiros, resolveu ir bater à porta.
Ninguém respondeu, telefonou para a filha e, mais que tarde, foi chamada a ambulância.
A senhora acabou por recuperar o possível, mas está impossibilitada de cuidar de si mesma; tornou-se dependente.
O gato, entretanto na casa vazia, ficou sem comer nem beber dias e dias. Finalmente a vizinha lembrou-se dele. A filha já resolveu o «problema» e vai dá-lo a quem o cuide.
A senhora está à espera de vaga para ir para um lar.
Vai chorando baixinho, muito calada e solitária. Não se lembra dela nem de ter perdido a casa ou a independência.
Chora pelo gato - se o trataram bem e sente-se ingrata por não lhe devolver tudo o que ele lhe deu: companhia e alegria; o que ninguém lhe dá!
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2 Comments:
Comoveu-me este texto
VN
Obrigada pela sua visita e pelo seu comentário.
E é curioso que tenha descobeto este blog no blogger que é uma duplicação de salvaguarda do mesmo blog no sapo, mas só a versão base sem tags nem links, etc., para me permitir repôr os originais quando sai asneira no "principal". Se quiser conhecer a versão mais completa, está em http://escritosdeeva.blogs.sapo.pt
E obrigada também pela sua comoção. Nem toda a gente (leia-se, neste caso, o sexo masculino)assume tão francamente a capacidade de se emocionar, que cataloga como uma espécie de "fraqueza sentimental".
Eva
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